Marcelo: "A pobreza é um problema estrutural que a democracia não conseguiu resolver"
Na tradicional mensagem de Ano Novo, a penúltima enquanto presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que, volvidos 50 anos do 25 de Abril de 1974, celebrados no ano passado, a democracia "não conseguiu resolver" a pobreza que atinge dois milhões de portugueses.
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Na tradicional mensagem de Ano Novo, a penúltima enquanto presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa alertou que há valores de Abril que continuam por cumprir, mesmo após a comemoração, no ano passado, dos 50 anos da data histórica. “Evocar Abril é olhar para o futuro, não é repetir o passado. Precisamos de menos pobreza. A pobreza de dois milhões de portugueses é um problema de fundo estrutural que a democracia não conseguiu resolver”.
Para corrigir as desigualdades, o país precisa de “uma economia que cresça e possa pagar melhor e aumentar os rendimentos dos portugueses” e de uma aposta reforçada em três áreas: educação, saúde e habitação. Porém, o reforço da qualificação dos recursos humanos, do domínio tecnológico, da produtividade e da "energia limpa" não pode acentuar ainda mais outro “fosso”, o geracional, entre jovens e os mais idosos, “que cada vez mais entram em becos com poucas ou nenhumas saídas”.
Gastar os milhões do PRR
O presidente da República considerou que é preciso “renovar a democracia” e "não a deixar envelhecer", definindo o combate à corrupção, à violência doméstica e social e a construção da tolerância como aspetos importantes para o futuro. "Precisamos que Portugal fique mais preparado para enfrentar as aceleradas mudanças na Europa e no Mundo. Precisamos que o bom senso que nos levou a reforçar a solidariedade institucional e até a cooperação estratégica entre órgãos de soberania, nomeadamente presidente da República e primeiro-ministro, prossiga. E que nos levou também a aprovar os orçamentos de 2024 e 2025, continuam a garantir estabilidade, previsibilidade e respeito cá dentro e lá fora", considerou.
O presidente da República chamou ainda a atenção para se aplicarem, na totalidade, as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), nos próximos dois anos, e que “os números económicos e financeiros vindos do passado próximo”, numa alusão ao excedente orçamental, “se consolidem e acentuem”. Depois dos apelos ao Governo, o chefe de Estado lembrou que o povo português será, uma vez mais, “juiz supremo” no final deste ano, quando se vão realizar as eleições autárquicas.
Recados para a Europa
Ao contrário do habitual, o discurso de Marcelo deu um amplo destaque às questões internacionais, em especial à Europa e o seu relacionamento com os Estados Unidos. A reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos foi "um regresso a 2016" que permitiu ao vencedor "definir sobre a paz que que quer", tanto na Ucrânia como no Médio Oriente.
Neste quadro, e relembrando as relações dos EUA com a Rússia e com a China, o chefe de Estado afirmou que a União Europeia tem como desafio “fazer aliança” com os Estados Unidos. “Mas não contar só ou sobretudo com isso. Manter-se unida. Não deixar cair alianças e aliados”, avisou Marcelo, sublinhando a necessidade de a Europa “ganhar peso militar próprio” e reformar os “seus fragilizados sistemas económicos, políticos e sociais”. “Tudo ao mesmo tempo. Tudo difícil. Mas tudo indispensável para a União Europeia se afirmar como uma potência global no Mundo", recordou.
Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu-se ao país no dia de Ano Novo pela penúltima vez enquanto presidente da República, uma vez que termina em janeiro do próximo ano o segundo mandato, de cinco anos, e pela primeira vez desde que tomou posse um Governo minoritário de Direita, liderado por Luís Montenegro.
Na mensagem do ano passado, que decorreu pouco depois da demissão do socialista António Costa e da convocação de eleições legislativas em março, o chefe de Estado afirmou que 2024 seria um ano ainda mais decisivo do que 2023, que tinha terminado "com mais desafios e mais difíceis do que aqueles com que havia começado".
Num ano que viria a ser marcado por quatro eleições - regionais na Madeira e nos Açores, legislativas e europeias -, Marcelo fez um forte apelo à participação dos portugueses nos atos eleitorais, salientando que 2024 iria ser "largamento aquilo que os votantes, em democracia", quisessem.