O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu a reposição do tempo integral de serviço dos professores.
Corpo do artigo
Marcelo Rebelo de Sousa reconhece que há muitas lutas justas na rua, neste momento. Em entrevista conjunta ao "Público" e à RTP, dá como exemplo as reivindicações dos professores, recomendando às duas partes que mantenham a negociação.
"Tem de haver um acordo, e o acordo tem de incluir, além dos pontos setoriais em que já houve acordos parcelares ou aproximações de pontos de vista, duas questões fundamentais: uma é a recuperação do tempo de serviço", comentou Marcelo Rebelo de Sousa. O presidente da República admitiu que a recuperação integral financeiramente "não seja possível neste momento", como diz o Governo, mas recordou já houve alguma recuperação noutros tempos. "Porque não fasear a recuperação..."
Questionado se era de estender a recuperação do tempo de serviço a todas as instituições da função pública, Marcelo Rebelo de Sousa fintou a pergunta e manteve-se no campo dos professores. "É preciso corrigir as desigualdades entre professores, porque, por exemplo, a diferença entre os professores mais novos e os mais antigos que estão mais perto do limite da idade da reforma é que, nestes, 70% ainda vão conseguir chegar ao topo. Os professores mais novos não vão", disse o presidente da República, sem deixar de dar uma canelada nos docentes e nos governantes. "Acho que há caminho para fazer e deve haver da parte do Governo, como da parte dos professores, essa predisposição para pensar nos alunos, nas famílias, na sociedade. Três anos letivos seguidos ultrapassam mesmo aquele embate da Revolução de Abril com dois anos letivos."
Para Marcelo Rebelo de Sousa, a solução "é negociar". E o caminho tem de ser feito a dois. "O Governo faz mal se romper. Os sindicatos e os professores não o esquecerão. Os sindicatos fazem mal se romperem as negociações ou se esticarem para além de um determinado limite aquilo que é a sua luta", disse Marcelo Rebelo de Sousa, dando como exemplo a hipótese de haver "greve às avaliações". A entrevista foi feita antes da última ronda de negociações falhada, na quinta-feira, da qual saiu, da parte da Fenprof, o anúncio de uma greve nacional a 6 de maio, que vai afetar as avaliações.
"É muito importante a sintonia com a opinião pública que tem existido desde o começo. Houve dois anos letivos muito perturbados pela pandemia. Se houver um terceiro, o problema é outro. Já não é um problema de perda do ano letivo, é o da discriminação entre alunos, e não é entre público e privado, é dentro do público", alertou Marcelo, explicando por que razão as partes fazem mal em romper a negociação. "Corro o país. Sei que há uma parte das escolas que, de facto, têm paralisações e, portanto, os alunos que vão ter ou um aproveitamento e avaliações têm um tratamento diferenciado, discriminatório, favorecido em relação aos outros", alertou Marcelo Rebelo de Sousa.