O presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, reconheceu responsabilidades de Portugal por crimes cometidos durante a era colonial, sugerindo o pagamento de reparações pelos erros do passado.
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"Temos de pagar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, citado pela agência Reuters, durante um jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal.
No evento, Rebelo de Sousa disse que Portugal "assume toda a responsabilidade" pelos erros do passado e lembra que esses crimes, incluindo os massacres coloniais, tiveram custos.
Há um ano, na sessão de boas-vindas ao Presidente brasileiro Lula da Silva, que antecedeu a sessão solene comemorativa do 49.º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que Portugal devia um pedido de desculpa, mas acima de tudo devia assumir plenamente a responsabilidade pela exploração e pela escravatura no período colonial.
"Não é apenas pedir desculpa - devida, sem dúvida - por aquilo que fizemos, porque pedir desculpa é às vezes o que há de mais fácil, pede-se desculpa, vira-se as costas, e está cumprida a função. Não, é o assumir a responsabilidade para o futuro daquilo que de bom e de mau fizemos no passado", defendeu.
Durante mais de quatro séculos, pelo menos 12,5 milhões de africanos foram raptados, transportados à força para longas distâncias por navios e mercadores maioritariamente europeus e vendidos como escravos.
Atira Costa à presidência do Conselho Europeu
No mesmo encontro com correspondentes estrangeiros, Marcelo Rebelo de Sousa, voltou a dizer que acredita que o ex-primeiro-ministro António Costa, será o próximo Presidente do Conselho Europeu. "Acho que sim", disse, citado pela agência EFE, quando questionado sobre a sua opinião relativamente às hipóteses de Costa presidir ao Conselho.
O líder português afirmou que, após as últimas informações divulgadas sobre o processo judicial contra o ex-chefe de Governo por alegadas irregularidades, parece que o processo vai decorrer "mais facilmente, mais rapidamente".
Rebelo de Sousa sublinhou ainda que tudo indica que os socialistas serão a segunda força mais votada nas eleições europeias de junho, "a não ser que haja um tsunami".
Rebelo de Sousa salientou que outro fator favorável a Costa poderá ser o facto de a Presidência da Comissão Europeia estar nas mãos do Partido Popular, o que faria sentido que a Presidência do Conselho Europeu fosse para os socialistas, embora não seja o caso atualmente.
Destacou não só o apoio que Costa poderá ter no seio da família socialista, mas também as simpatias que suscita no Partido Popular Europeu e entre liberais como o presidente francês, Emmanuel Macron.
Segundo Rebelo de Sousa, a estes possíveis apoiantes juntam-se outros possíveis apoiantes, como a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, o presidente húngaro, Viktor Orbán, e líderes da Europa de Leste. "Será um grande presidente do Conselho Europeu e isso é bom para a Europa e bom para Portugal", afirmou.
O presidente português salientou que a Europa "precisa de políticos com experiência" e recordou que Costa foi um dos primeiros-ministros com o mandato mais longo.
Brasil pede "ações concretas"
A ministra da Igualdade Racial do Brasil pediu entretanto "ações concretas" por parte de Portugal na sequência da afirmação do presidente da República. "É realmente muito importante e contundente essa declaração", afirmou Anielle Franco ao portal brasileiro G1. "Pela primeira vez, estamos a fazer um debate dessa dimensão a nível internacional", frisou a ministra brasileira, irmã da ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, acrescentando ainda que tais declarações são "fruto de séculos de cobrança da população negra".
Ainda assim, Anielle Franco sublinhou que "essa declaração precisa de vir seguida de ações concretas, como o próprio Presidente [de Portugal] parece estar ali comprometendo-se a fazer". "A nossa equipa já está em contacto com o Governo português para dialogar sobre como pensar essas ações e a partir daqui quais passos serão tomados", disse.