Marcelo diz que 25 de Novembro consolidou democracia, mas 25 de Abril foi "mais marcante"
O presidente da República afirmou que o 25 de Abril de 1974 foi o momento "mais marcante" do processo revolucionário, embora frisando que, a 25 de Novembro de 1975, se deram "passos importantes" na consolidação do atual regime. Marcelo Rebelo de Sousa considerou não existir "contradição" em celebrar ambas as datas.
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"O 25 de Abril de 1974 foi não só o primeiro [momento] como o mais marcante em termos históricos", afirmou o chefe de Estado, esta segunda-feira, na primeira sessão solene de comemoração do 25 de Novembro. "Sem ele, no momento em que ocorreu, não haveria 25 de Novembro de 1975", reforçou.
Para realçar a maior importância histórica do 25 de Abril, Marcelo lembrou que foi esse acontecimento que pôs fim a um "ciclo imperial de cinco séculos" e a uma "ditadura de meio século", além de ter estabelecido o pluralismo partidário. Sobre o 25 de Novembro, observou que, embora nessa data tenham sido dados "passos importantes", a democracia "plena" só ficou "definitivamente consagrada" sete anos mais tarde, com a revisão constitucional de 1982.
"Pode afirmar-se que a 25 de Abril de 1974 começa a liberdade e, a 25 de Novembro de 1975, a democracia?", indagou o presidente. Logo depois, deu a resposta: "É mais rigoroso dizer que, a 25 de Abril, abre-se um caminho - complexo e demorado, porque atravessou a revolução e, depois, a transição constitucional de sete anos para a liberdade e a democracia. A 25 de Novembro de 1975, dá-se um passo muito importante no caminho dessa liberdade e democracia".
Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que Novembro foi um marco "muito significativo": "Sem ele, o refluxo revolucionário teria sido mais demorado, mais agitado e mais conflitual. E, para alguns, poderia mesmo provocar uma guerra civil", apontou.
A escalada pós-11 de Março de 1975 e o aviso para que a História seja respeitada
Embora considerando que Abril representou um "virar de página mais profundo", o presidente sustentou que "não existe contradição" em celebrar as duas datas. A fechar o discurso deixou, contudo, um aviso: se, por um lado, é natural que as leituras históricas se vão "reinventando" conforme as "conjunturas", também é necessário que elas se mantenham sempre fiéis "ao efetivamente vivido". Salientou ainda a importância de nenhuma destas datas ser usada para outro fim que não garantir "mais liberdade e mais demoracia".
O início do discurso de Marcelo foi uma resenha histórica do período entre 1974 e 1975. O presidente deteve-se na tentativa de golpe de 11 de Março de 1975 - dirigido pelo general António de Spínola, que entendia que a Esquerda estava prestes a endurecer a Revolução. Foi a derrota do golpe que, vincou Marcelo, "abriu caminho" a um "fluxo revolucionário muito mais intenso, no qual o PCP saiu fortalecido.
O 25 de Novembro, frisou o chefe de Estado, representou a "vitória" do Grupo dos Nove - militares próximos de PS, PSD e CDS - sobre os outros dois setores militares. Um desses setores, liderado por Otelo Saraiva de Carvalho, era afeto à extrema-esquerda; o outro, que tinha Vasco Gonçalves como figura maior, tinha ligações ao PCP.
Os deputados do PSD, bem como os da IL e vários do PS, aplaudiram de pé o discurso de Marcelo. Outros socialistas fizeram o mesmo, mas sentados. No Chega, a divisão foi entre aqueles que bateram palmas - sem se levantarem - e os que não se manifestaram.