Presidente não vê "alternativa forte" e PSD diz não querer legislativas. Primeiro-ministro tem como desafio mudar Governo, com leque de opções limitado, e dar provas de maior escrutínio para evitar "casos e casinhos".
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Marcelo Rebelo de Sousa recusa usar a "bomba atómica" porque "não é claro que surgisse uma alternativa evidente e forte, imediata àquilo que existe no Governo" e o "experimentalismo não é aconselhável para a saúde das democracias". Sem acusar o toque, o PSD concordou que não pode haver eleições todos os anos. Mesmo com Belém a afastar a dissolução do Parlamento, António Costa tem a difícil tarefa de substituir Pedro Nuno Santos. E, com ou sem remodelação, terá de dar provas de maior escrutínio para evitar "casos e casinhos", defendem politólogos ao JN, notando que recrutar gente para o Governo é cada vez mais complicado. Será "o teste do algodão", diz Miguel Ângelo Rodrigues. Do mesmo modo, Costa é chamado a resolver os problemas de articulação.
Desde a demissão do ministro das Infraestruturas, Costa tem-se aconselhado com outros ministros, relataram fontes do Executivo ao JN. Marcelo disse que não poderá ficar no Brasil para o funeral de Pelé, na terça-feira. Tem de voltar "por várias razões, uma das quais a posse do Governo". Mas, segundo outra fonte do Executivo, não é certo que Costa apresente nomes logo que Marcelo regresse.
PSD em construção e unido
O chefe de Estado explicou que, "não havendo maioria absoluta clara de alternativa, não se pode recorrer de oito em oito meses à bomba atómica". Isso significaria "três meses de paragem do país". E, nesta altura "muito sensível", diz ser "preferível que o Governo efetivamente governe, e cada vez melhor".
Questionado pelo JN, Hugo Soares, secretário-geral do PSD, disse que "o país não deve andar em eleições de ano a ano". Instado sobre se o partido teria condições para ganhar, respondeu que "não olha para as eleições com esse taticismo". Mas, enquanto o Executivo está "desgovernado", o PSD "é um partido em construção, unido e que se apresenta como alternativa". Isto apesar das palavras de Marcelo, que sugerem uma preocupação com eventuais alianças com o Chega. O PSD reúne segunda a sua Comissão Permanente.
Por sua vez, Fernando Medina, ministro das Finanças, afastou responsabilidades no caso polémico da TAP.
Dentro e fora do partido, continua a ideia de que o primeiro-ministro poderia aproveitar para uma remodelação profunda, que dê novo fôlego ao Governo. Isto quando Costa tem repetido que a maioria absoluta é para quatro anos. E já fala em novo mandato. "Em outubro de 2026, verei o que vou fazer a seguir", disse em entrevista ao Expresso.
Enquanto se espera pela decisão de Costa, há quem sugira nomes como Ana Paula Vitorino, ex-governante que preside à Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, quem defenda que, no PS, há várias quadros que podem entrar para o Governo, como Eurico Brilhante Dias, ou até quem sugira que Duarte Cordeiro acumule, num só Ministério, as pastas do Ambiente, Infraestruturas e Habitação, como propõe Álvaro Beleza. Mas, para este socialista, "o PS tem gente para fazer dois ou três governos".
"Credíveis e com notoriedade"
O politólogo Pedro Silveira diz que Costa enfrenta "um dilema". Crê que uma remodelação passaria "uma mensagem de refrescamento", mas também de contradição devido à desvalorização que tem feito dos casos, além de transmitir "mais instabilidade". A seu ver, o primeiro-ministro tem de chamar "pessoas muito credíveis e com notoriedade". Mas constata "a dificuldade de ter pessoas disponíveis" que sejam "as primeiras escolhas". Diz ainda que "a articulação de membros do Governo tem de funcionar muito melhor", sublinhando que Mariana Vieira da Silva acabou por não cumprir essa missão.
O politólogo Miguel Ângelo Rodrigues destaca que "o recrutamento" de pessoas para o Governo "é um problema", quando se somam casos de incompatibilidades e conflitos de interesses. "Ou ninguém quer ir para o Governo" ou este é dominado "por uma lógica político-partidária", questiona o investigador. Considera ainda que a substituição do ministro será "o teste do algodão" para o Governo de Costa, que tem a oportunidade de "encerrar de vez esta política de casos e casinhos".