Marcelo lembra que país escolheu dar vitória aos "moderados" e não aos "radicais"
O presidente da República lembrou que a maioria dos portugueses deu a vitória eleitoral "ao setor moderado e não ao radical", numa alusão ao Chega. Marcelo Rebelo de Sousa também frisou que o PSD venceu as eleições de forma "estreita", recomendando que o novo Governo aproveite o que de bom foi feito no passado.
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"Onde não temos problemas não os devemos criar", afirmou o chefe de Estado, esta terça-feira, em Lisboa. Momentos antes, tinha dado posse a Luís Montenegro como primeiro-ministro, bem como aos restantes 17 ministros.
Marcelo debruçou-se sobre quatro áreas: o panorama internacional, a situação economico-social interna, a "base de apoio político" do novo Governo e o tempo de que este dispõe para ter resultados.
Quanto ao primeiro tema, frisou que "o mundo está pior em 2024 do que em 2022" - ano em que o último Executivo de António Costa tomou posse e em que o conflito na Ucrânia escalou, com a invasão russa. Nesse sentido, recomendou a que a equipa de Montenegro tenha o "bom senso" de manter "a coerência e a credibilidade política e financeira" que vinha a ser trilhada.
Falando da realidade do país, Marcelo manteve o tom: apelou ao "consenso", entre este Governo e o anterior, em matérias como crescimento económico, contas públicas ou redução da dívida. Pediu ainda que Montenegro não crie problemas "onde não os temos" mas, também, que intervenha onde existem "problemas de custo ou disfunções económicas e sociais".
Negociação do Orçamento colocará desafios "de largo fôlego"
No que toca à terceira área - a base de apoio político -, Marcelo sublinhou que "importa saber com o que conta o Governo". Garantindo que, da parte da Presidência, haverá apoio "solidário e cooperante", referiu que, no Parlamento, o cenário pode ser diferente: devido ao facto de a Aliança Democrática não ter maioria absoluta, situações como a aprovação do primeiro Orçamento do Estado - em outubro - colocarão desafios "de largo fôlego", avisou.
Por fim, o chefe de Estado considerou que o tempo de que o Governo dispõe para apresentar resultados é "muito curto", ainda para mais tendo em conta "o que foi prometido em campanha". Montenegro, recorde-se, fez promessas a setores como os professores ou as forças de segurança, que estavam em conflito com o anterior Executivo.
Há dois anos, Marcelo avisou: se Costa saísse, Governo cairia
Esta tomada de posse ocorre dois anos e dois dias depois da do último Governo de António Costa. Na altura, recorde-se, Marcelo avisou o primeiro-ministro, eleito com maioria absoluta, de que uma eventual saída para um cargo europeu significaria a queda do Executivo.
Nessa ocasião, o chefe de Estado não poupou nos recados a Costa: "Agora que ganhou – e ganhou por quatro anos e meio –, tenho a certeza de que Vossa Excelência sabe que não será politicamente fácil que essa cara que venceu de forma incontestável e notável as eleições possa ser substituída por outra a meio do caminho", avisou. Acrescentou que este era "o preço das grandes vitórias".
Os ministros do Governo de António Costa, que cessam funções, assistiram à posse dos sucessores nas primeiras filas da sala do Palácio da Ajuda. Costa ficou sentado ao lado da mulher de Luís Montenegro. O líder do PS, Pedro Nuno Santos, não marcou presença, tendo sido representado por Alexandra Leitão.
Nem BE nem PCP estiveram na cerimónia. Os primeiros fizeram saber, à Lusa, que, "tal como acontreceu no passado", não assistem à posse "de um Governo de Direita". Já os comunistas lembraram que não têm por hábito marcar presença em tomadas de posses de Executivos; apenas quebraram a tradição em 2015 - ano da criação da geringonça - para marcar uma posição contra o então presidente Cavaco Silva.