O presidente da República recusou comentar, esta sexta-feira, a tomada de posição do PSD, que ameaça retirar a confiança política à direção das "secretas" em carta enviada por Montenegro ao primeiro-ministro. Marcelo entende que o "processo" está em curso e, por isso, ficará em silêncio.
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O chefe de Estado teve conhecimento da missiva de Luís Montenegro ao início da manhã desta sexta-feira, quando iniciava a viagem de regresso da África do Sul para Portugal. O líder social-democrata enviou a carta a António Costa, com conhecimento de Marcelo Rebelo de Sousa.
"Sei [da tomada de posição do PSD], porque estava a bordo do avião na África do Sul. Tínhamos acabado de deslocar e recebi essa informação, embora não me fosse dirigida. Era com conhecimento ao presidente da República. Eu entendo que estamos num processo e, no decurso do processo, não vou pronunciar-me sobre isso. Está em curso", explicou o presidente da República, em declarações à RTP, já em solo nacional, na Régua, onde decorrerão as cerimónias que assinalam o 10 de Junho.
Na missiva, Luís Montenegro insiste na demissão da secretária-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, Graça Mira Gomes, e avisa que, se isso não acontecer, a direção das "secretas" perderá a confiança dos sociais-democratas.
"Caso não ocorra qualquer demissão, quero que V. Ex.ª saiba que passará a ocorrer um facto inédito em toda a democracia portuguesa: a direção do SIRP deixará de ter a confiança do maior partido da oposição. Espero que o SIRP continue a servir o Estado, mas fá-lo-á apenas com o aval e a confiança do Governo", escreve Luís Montenegro na carta, a que a Lusa teve acesso.
O líder social-democrata sublinha que o grupo parlamentar do PSD apresentará um projeto de lei com mudanças ao regime de fiscalização parlamentar dos serviços de informação, na Assembleia da República, cujo objetivo é torná-lo mais transparente.
Dirigindo-se a António Costa, Montenegro escreve: "Pode teimar em manter tudo na mesma. É até o mais provável face à promiscuidade que, neste caso, existiu entre o Governo e os serviços de informações. Mas nessa circunstância quebra-se a regra política segundo a qual os dirigentes destes serviços beneficiam simultaneamente da confiança do Governo e do principal partido da oposição".