Na mensagem de Natal para o Jornal de Notícias, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deixa vários apelos. Uns mais velados, outros menos óbvios.
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Num texto de opinião intitulado "O Natal possível", o mais alto magistrado da Nação lança um olhar sobre o impacto da quadra festiva nos diferentes quadrantes da sociedade portuguesa, repetindo os apelos à tolerância e ao respeito pela dignidade humana. Uma mensagem de esperança mas que, ainda assim, não deixa de ter uma dimensão agridoce. "Todos os dias – se estivermos atentos – descobriremos que o Natal de muitos, quase todos, é, sempre, o Natal possível. Não o Natal sonhado ou idealizável", começa por escrever o presidente.
Na sua mensagem, que é conhecida no mesmo dia em que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, também irá dirigir umas palavras ao país, na habitual comunicação que os chefes de Governo efetuam no dia 25 de dezembro, Marcelo fala de vários exemplos de superação pessoal que tem encontrado "nos últimos dias". Dentro e fora de portas, entre os portugueses que vivem no país onde nasceram, e junto daqueles que estão emigrados. "Nas nossas comunidades distantes das famílias, a fazerem natais possíveis. Nos nossos soldados perto de guerras ou conflitos, a evocarem gestos, textos, canções, comidas que possam matar saudades. Cá dentro, noutras comunidades onde a pobreza e a solidão ainda encontram um esconderijo para conviver e evocar pessoas e lugares motivadores", escreve o presidente da República.
Num momento político particularmente sensível no que ao acolhimento das comunidades estrangeiras diz respeito, Marcelo não deixa de lhes endossar também uma palavra. "A liberdade determinando diversidade de ideias, pluralismo de modos de pensar e agir, tolerância, aceitação da diferença, recusa do monopólio da verdade. A igualdade exigindo a superação das discriminações injustas, os guetos, as exclusões, a perpetuação da pobreza de geração para geração", enfatiza, numa referência indireta a discursos mais extremados que têm marcado a atualidade política nacional sempre que o tema imigração vem à baila.
O chefe de Estado recupera, desta forma, uma tradição que, durante anos, marcou a agenda política do dia de Natal, ao escrever uma mensagem ao país através das páginas e canais digitais do Jornal de Notícias. Desde 2017 que o faz, apenas tendo interrompido esta prática em 2022 e 2023. Esta será a sua penúltima comunicação ao país nesta quadra festiva, antes das eleições presidenciais de 2026.