Cerca de mil pessoas participaram, este domingo em Lisboa, numa marcha para exigir justiça climática e uma transição justa. Os protestantes querem ações concretas de combate às alterações climáticas face à inação dos governos e dos líderes mundiais. Catarina Martins, Inês de Sousa Real e Mariana Silva marcaram presença na manifestação.
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O percurso começou na praça de Martim Moniz e seguiu pela avenida Almirante Reis até à Alameda. Na marcha, marcaram presença 35 organizações, partidos políticos, sindicatos, ONG"s e coletivos informais ligados não só às questões climáticas, mas também à defesa de causas como o direito das mulheres e à luta contra o racismo.
Como afirmou ao JN Sinan Eden, porta-voz da Marcha Mundial pela Justiça Climática, integrante da Climáximo, "a crise climática não é um problema sobre CO2 ou sobre moléculas, é um problema sistémico e social que é filtrado por todas as desigualdades do sistema, como o racismo, o patriarcado e a história colonial. As desigualdades entre norte e sul podem ser constatadas na COP [Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas], porque os países do norte são decisores de maior peso e as delegações do sul foram excluídas".
Na opinião do jovem, "as empresas multinacionais de combustíveis fósseis e os governos" são os culpados do agravamento das alterações climáticas. "A COP tem delegações das empresas petrolíferas no mesmo espaço. É muito difícil distinguir se os representantes dos estados estão a representar as empresas ou se são as empresas que estão a representar os estados". A solução passa por "retirar as empresas de combustíveis fósseis das negociações e ter um plano concreto para chegar a 1,5.ºC". Como "a COP está desenhada para falhar", o "compromisso reside nos movimentos sociais que vão criar as soluções, pressionando os decisores", concluiu.
A manifestação contou com pessoas de várias faixas etárias, estando muitas crianças presentes. Vítor Romba veio com as filhas Juliana e Mafalda, uma com 11 e outra com 7 anos, respetivamente. O pai revelou ter proposto às filhas a participação na marcha e estas aceitaram sem hesitar. É preciso consciencializar as pessoas de que "a nossa casa está a arder" e que "estamos a destruir o futuro das nossas crianças", afirmou. Mafalda, aluna do 6.º ano disse que em casa separam o lixo, tentam não comprar tantas coisas que não precisam e reduzem o uso de plástico. Apesar de na escola ouvir falar de alterações climáticas, foi em casa que a sua preocupação relativamente à causa cresceu.
Já Joana Ribeiro, de 42 anos e engenheira do Ambiente, integrou um grupo de 23 pessoas que veio dos Olivais de bicicleta até à manifestação. A bicicleta é o seu meio de transporte no dia-dia, pois é "uma ferramenta ao serviço da vida e da regeneração". A protestante deixou um apelo: "Precisamos de parar de usar combustíveis fósseis e preservar o mundo natural que existe e regenerá-lo".
Ao lado dos manifestantes, a líder do PAN afirmou, aos jornalistas, que "Portugal deu, esta semana, um passo importante na proteção do clima ao aprovar, ao fim de dois anos, a lei de bases do Clima, cujo pontapé de saída foi dado pelo PAN. Mas é preciso fazer mais para um compromisso efetivo de redução das emissões de carbono e de transição para uma agricultura e modelos mais sustentáveis, do ponto de vista da produção".
A coordenadora do BE, Catarina Martins, que também marchou no protesto, referiu que "a lei de bases do Clima não é tudo o que precisamos, mas tem, pela primeira vez, metas claras de descarbonização da economia e princípios para travar o aquecimento global".
O protesto decorreu a um ritmo animado, proporcionado pela percussão do grupo Samba Ação. Vários agentes da PSP acompanharam e controlaram, de perto, a manifestação que terminou em frente à fonte luminosa na Alameda. As várias organizações envolvidas discursaram e houve uma performance do grupo Red Rebels.