Empresário conta ao JN a "experiência inolvidável" de ir ao espaço. E partilha imagem exclusiva da bandeira nacional em gravidade zero.
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"Agora que passaram 24 horas, o que posso dizer é que esta viagem ao espaço pode parecer curta para muitos mas, para mim, foram os [10] minutos mais intensos que vivi". Foi assim que, ontem, ao fim da tarde, em terra firme, Mário Ferreira resumiu, ao JN, o voo suborbital que faz dele o primeiro turista espacial português, descolando do deserto do Texas, nos Estados Unidos, a bordo da cápsula New Shepard, da empresa Blue Origin.
O empresário diz que "tudo aconteceu muito rápido, o que é normal para quem saiu disparado num rocket". "Em gravidade zero, tive a possibilidade ter uma câmara para cumprir um dos meus sonhos e hóbis, que é a fotografia, e captar o máximo possível de fotos enquanto estava a flutuar na cápsula", relatou. "Tinha combinado com o meu companheiro Clint para me avisar quando estivéssemos a chegar ao máximo de altitude, para que eu pudesse captar o momento, e em troca eu faria uma foto dele, coisa que aconteceu e felizmente a foto dele saiu fabulosa", acrescentou. Foi nessa altura que, sublinhou, "soltei a bandeira portuguesa que tinha no meu bolso e deixei-a flutuar no espaço e captei esta foto", detalhou o dono da TVI e da Douro Azul, referindo-se à imagem exclusiva que cedeu ao JN.
Foram três minutos em que, a levitar, apreciou e retratou a escuridão exterior, a 106 km de distância da Terra e acima da Linha de Karman.
O apoio da mulher
Os dias antes de concretizar o sonho de ir ao espaço foram passados numa autocaravana em Van Horn, no Texas, onde Mário Ferreira teve como companhia constante a mulher Paula. "Fiquei muito feliz quando ainda aguardava na cápsula, olhei pela janela e vi a Paula a chegar com a equipa técnica de apoio, foi uma sensação muito boa", diz.
Nas redes sociais, o gestor que se afirmou no negócios dos barcos, mas há muito também conquistou sucessos empresariais em terra e agora chegou ao espaço, também se declarou à mãe das filhas Carlota e Catarina, com quem se casou em 2006. "O que lhes garanto é que foi muito bom, depois de aterrar, poder abraçar e beijar a Paula", disse. Não tardou a juntar-se aos herdeiros. Além das mais novas, contou com a presença (e mimos) de Iris e Mário, do primeiro casamento, ainda sem saber que iria ser surpreendido com uma taça oferecida pela família.
Durante a viagem, levou alguns objetos especiais, além da bandeira de Portugal e de uma garrafa de vinho do Porto. Entre eles, o anel preferido de Iris, a primogénita, um anjinho, uma caravela em filigrana, uma bandeira dos 700 anos da Marinha Portuguesa, outra do Banco Alimentar e um terço e uma estátua de Nossa Senhora pertencente à mulher. O filho Mário também lhe entregou uma medalha da Força Aérea, do avô.
Nada podia falhar
Ainda com a beleza celestial no campo de visão, "de repente, e como tudo se passa muito rápido, ouvimos uma voz: "1 minute to exit zero G". E tivemos que iniciar procedimentos de regresso ao banco, coisa que em gravidade zero não é fácil. Depois começa a parte mais difícil do voo, a reentrada. Foi aqui que passamos a barreira dos 5G (cada G é uma vez o peso do nosso corpo)". Ouviram-se depois "os disparos dos primeiros paraquedas e, depois, disparos ainda maiores dos paraquedas grandes. É aí que a velocidade de descida passa para os 300 quilómetro e já parece que vamos a voar calmamente".
Horas de emoção
A viagem durou menos de 11 minutos e nada podia falhar, sobretudo no regresso. "Começámos a rever procedimentos de segurança para aterrar e a pensar nos treinos, caso a aterragem fosse complicada, coisa que felizmente não aconteceu - a aterragem foi muito boa". Eram 15.07 horas (de Lisboa), de 4 de agosto de 2022 quando voltou à Terra. Fez história: é o primeiro turista espacial português.
"Tudo começa na noite anterior", até porque "já é difícil dormir com emoção e pensamentos", recorda. "Para mim, o momento zero da viagem foi quando a última pessoa nos desejou boa sorte, bom voo e fechou a porta. A partir daquele momento estamos só nós, os seis astronautas e a máquina".
Antes do "countdown", o empresário e os outros cinco tripulantes tiveram "40 minutos para refletir". "Além de uma ou outra piada, estávamos a aproveitar o momento, sabendo que estávamos sentados em cima de um rocket carregado de combustível", disse.
Os olhos estavam "fixados no painel, caso tivéssemos que fazer um exercício que praticámos várias vezes, de fuga rápida para o bunker da torre de lançamento". Mas tudo correu bem, "foi uma inolvidável e privilegiada experiência".