Mário Nogueira despediu-se da liderança da Federação Nacional de Professores recordando "as lutas" de 18 anos. Na sessão de abertura do congresso, esta sexta-feira, sublinhou que a sua saída não significa "abandono", nem uma rutura na Fenprof.
Corpo do artigo
Saiu, emocionado, ao som de uma balada coimbrã e sob a ovação, de pé, dos 622 delegados no congresso que enchem, por completo o Fórum Lisboa. Agradeceu à organização "que o fez sindicalista" - Sindicato de Professores da Região Centro (SPRC) - e aos professores "pelas lutas que fizeram e vão continuar a fazer". Tanto no discurso como no vídeo que preparou para a sua despedida, Mário Nogueira recordou momentos como as manifestações, em 2008, contra a divisão da carreira que reuniram em Lisboa mais de cem mil pessoas, a greve às avaliações em 2013 e os últimos anos pela recuperação do tempo de serviço congelado.
"A saída não é abandono porque não poderia abandonar quem tem 46 anos e 10 meses de sindicalizado, mais seis meses do que tempo de serviço", frisou na intervenção. Nogueira sai da liderança da Fenprof mas vai cumprir o mandato de presidente da Assembleia Geral do SPRC. Na passagem de testemunho para Francisco Gonçalves e José Feliciano Costa defendeu a solução colegial e garantiu que a renovação não causará ruturas na Fenprof, tal como no passado quando houve mudanças de secretário-geral.
O rumo, aliás, tem repetido nos últimos meses Mário Nogueira, está traçado. A falta de professores e o envelhecimento da classe determinam a nova "luta": a revisão do Estatuto da Carreira Docente. José Feliciano Costa, na intervenção de abertura enquanto presidente do Sindicato de Professores da Grande Lisboa, frisou que a classe já um nova palavra de ordem: "valorização", que sucede a "respeito", durante anos entoado pela recuperação do tempo de serviço congelado.
Em véspera de eleições legislativas, a sessão não deixou de ser politizada. Nogueira começou por sublinhar que as reivindicações da Fenprof - como o encurtamento da carreira ou a subida de salários - quaisquer que sejam os resultados de domingo. No discurso, não deixou de enviar farpas à Direita. "Que ninguém se deixe enganar por discursos de liberalização da Educação que vendem uma alegada liberdade de escolha, reduzindo o papel do Estado a mero regulado", afirmou referindo-se indiretamente a IL e AD. Também criticou os "discursos de ódio" contra imigrantes, sem mencionar o Chega.
"A FENPROF chega ao Congresso reforçada pelas posições que assume e quem afirma, como fez o ainda ministro, que temos outra agenda que não a da Educação, da Escola e dos docentes acaba por cair no ridículo", afirmou Nogueira, apontando prioridades para os próximos anos e para os seus sucessores: além da revisão do ECD, também o reforço do financiamento na Educação e Ciência, da Ação Social Escolar e da Educação Inclusiva e o desmantelamento dos mega-agrupamentos.
"Companheiro Mário"
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou uma video-mensagem ao congresso a agradecer a Mário Nogueira o "empenhamento muito forte, longo e difícil" que dedicou ao sindicalismo e aos professores. David Edwards, presidente da Internacional da Educação (que congrega mais de 600 organizações sindicais e representa 33 milhões de professores) despediu-se do "companheiro Mário". "Admiro profundamente a sua visão estratégica", frisou o norte-americano.
Outro momento político da sessão de abertura do congresso foi a intervenção da embaixadora da Palestina, Rawan Sulaiman, que apelou à solidariedade e sublinhou que os bombardeamentos israelitas não têm poupado universidades e escolas.
Cinco disciplinas, 450 alunos, 9 horas extradordinárias
À margem do Congresso, Maria Helena Gonçalves, coordenadora do departamento de docentes aposentados, já conta com 50 anos de sindicalismo. A professora de 1.º ciclo reformou-se aos 55 anos de idade quando estes docentes se aposentavam mais cedo por não terem redução letiva como os restantes. Um regime específico de aposentação para uma classe muito desgastada é, por isso, fundamental, defende ao JN.
A luta sindical é feita de longas batalhas, sublinha Maria Helena Gonçalves, recordando a aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo ou do Estatuto da Carreira Docente.
Daniel Nunes só abraçou a docência na pandemia. É um exemplo flagrante da falta de professores: é do grupo de Geografia mas, este ano letivo, também dá aulas de Cidadania, História, História de Arte e de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). "Cinco disciplinas, 450 alunos, nove horas extraoridnárias a mais no horário", aponta. Ao JN garante abraçar a luta pela valorização da carreira e pelo alargamento de apoios a todos os professores deslocados.