Modelo visava integrar comunidade surda, mas não só. Venda ficou aquém das expectativas.
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A máscara com uma janela transparente, que permite a leitura labial dos seus utilizadores, foi um desafio a que a Be Angel, empresa de confeção têxtil sediada em Vila Nova de Famalicão, respondeu com ânimo. "Inicialmente nem percebemos muito bem o alcance que poderia ter", disse Nuno Oliveira, CEO da empresa.
Passados vários meses desde que o equipamento de proteção individual viu a luz do dia (é certificada), as vendas não convenceram o responsável, que lamenta a falta de apoio de uma grande marca para aumentar o interesse do mercado.
"Não tivemos um grupo que se associasse e que colocaria a máscara numa dimensão superior em termos de venda", defende. A proposta partiu do CITEVE, centro tecnológico na área têxtil, e visava integrar a população surda durante a pandemia. Com os lábios tapados pelas máscaras, a leitura labial era inexistente e dificultava a comunicação.
Infantários usaram
O CEO da empresa têxtil preparou a máscara com janela transparente para todo o tipo de público. No entanto, foram os setores mais especializados, como os serviços e a educação, a mostrar interesse no produto.
"Tivemos muitas universidades, institutos, escolas, infantários e câmaras municipais que compraram as máscaras". O mercado foi pontuado por altos e baixos, com as máscaras comunitárias e as cirúrgicas a dominarem as vendas.
"Quando se compara usar e deitar fora porque é mais fácil, com um custo de dois ou três cêntimos [cirúrgica], torna-se quase ridículo. Acabou por determinar o mercado das outras máscaras", esclarece o empresário.
A máscara de leitura labial da Be Angel custava cerca de dez euros e baixou para os sete. É apenas comercializada pela empresa de Famalicão, podendo ser adquirida através da Internet.
A máscara é composta por tecido e plástico (para a janela transparente), o que tornou a costura particularmente desafiante. A equipa que desenvolveu o produto teve ainda de garantir, para que fosse aprovado, que não havia "fugas de ar", ao mesmo tempo que se assegurava a respirabilidade.
Produzida nos meses iniciais da covid-19 em Portugal (em abril de 2020), a empresa mantém máscaras de leitura labial em stock. Nuno Oliveira afirma que o produto tem "longa duração", desde que estimado pelos utilizadores.
Cem polícias formados
Desde 2016 que a Polícia de Segurança Pública (PSP) tem uma formação sobre comunicação com recurso a língua gestual. De acordo com um comunicado desta autoridade, cerca de 100 polícias a trabalhar por todo o território nacional foram instruídos.
As pessoas que comuniquem por via de língua gestual e precisem de contactar o 112, a PSP informa que existe a aplicação MAI112, para falar com um intérprete e, assim, ter resposta à sua situação de emergência.