Alfredo Silva, taxista há 40 anos, trocou as ruas do Porto pelas de Matosinhos, mas lamenta que mesmo nesta cidade o trânsito esteja cada vez mais "caótico". A isto alia ainda a fraca procura atual do serviço, apontando a pandemia, as novas plataformas digitais e o preço dos combustíveis como explicação.
Corpo do artigo
Há 40 anos que Alfredo Silva está ligado ao volante de um táxi. Relembra o início da carreira, quando, aos 29 anos, ingressou na profissão. Depois de percorrer sobretudo as ruas do Porto, o excesso de trânsito levou-o a mudar a direção do seu táxi para Matosinhos, a sua cidade natal.
Tudo porque na Invicta, "o trânsito está cada vez mais caótico", sublinha. Uma situação que, destaca, também se verifica em Matosinhos, ainda que "não se compare ao Porto". O motorista recorda que, quando começou, "não havia nem 50% dos carros que circulam por aí agora". Mas o tráfego intenso não é a única diferença.
Há mudanças até na convivência com os clientes. "O bom de trabalhar nesta profissão era conhecer pessoas novas, conversar com elas e criar relações". No entanto, realça que nos dias de hoje isso não se regista.
Os clientes entram e saem do carro agarrados aos ecrãs sem dizer uma única palavra. Já nada é o que era
"As pessoas mostram-se desinteressadas em conviver e falar, o que torna o nosso trabalho monótono", aponta. "Os clientes entram e saem do carro agarrados aos ecrãs sem dizer uma única palavra. Já nada é o que era", acrescenta.
Alfredo Silva vê o seu trabalho e o dos companheiros afetado por diversos fatores, como a pandemia, as novas plataformas digitais e o aumento dos combustíveis.
A covid-19 deixou marcas que ainda estão longe de passar. "A pandemia afetou-nos a todos. Não entendo como as pessoas são capazes de afirmar que estamos a voltar à normalidade quando passamos horas parados sem uma única chamada", observa.
O taxista adianta ainda que devido à pandemia "as pessoas têm receio de andar em transportes, sejam eles públicos ou indivíduas", fazendo com que a rede de táxis também seja afetada.
Pessoas preferem o moderno
A concorrência das plataformas digitais veio agravar o panorama: "Se antigamente havia pouco trabalho, hoje em dia ainda há menos devido às novas aplicações". Alfredo acredita que, atualmente, as pessoas "preferem optar pelo moderno", deixando os táxis para segundo plano, "mesmo que isso implique ser mais arriscado".
O motorista sustenta que os transportes das plataformas digitais "não transmitem a segurança e a lealdade que os táxis oferecem".
Há 40 anos que Alfredo Silva está ligado ao volante de um táxi e relembra o início da carreira, quando ingressou na profissão. Nessa altura ser motorista era "um trabalho de grande categoria", destaca.
Atualmente, há cada vez mais dias em que custam a passar as 12 horas preso ao volante. "Meio dia aqui dentro, muitas vezes parado durante horas num sítio porque não há procura e há muita oferta", justifica.
E, na verdade, no dia que falou como o JN, na praça de táxis, perto da Câmara de Matosinhos, era possível ver sete carros parados a aguardar por um serviço.