A matriz de risco que orienta as decisões do Governo relativamente ao desconfinamento pode vir a incluir novas variáveis, como a taxa de vacinação ou as novas variantes, como defende o pneumologista Filipe Froes.
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O primeiro-ministro António Costa não descarta essa possibilidade, mas remete a decisão e eventuais "novas regras" para a reunião com os especialistas, no Infarmed, esta sexta-feira.
O coordenador do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos defende que a matriz de risco que tem vindo a ser comunicada deve ser alterada, passando a ter em conta o impacto da vacinação e a menor gravidade das faixas etárias infetadas.
"O modelo que temos assentava no número de novos casos e na gravidade dos mesmos, medida através do número de internamentos e, destes, os que eram em cuidados intensivos", explicou o pneumologista, ao JN. "Atualmente, estamos a ter aumento de transmissibilidade, nomeadamente em Lisboa, sem a mesma gravidade e até com diminuição do número de internamentos". Na sua perspetiva, há uma perda de eficácia da matriz, na medida em que a cidade pode entrar na zona vermelha, mas a população não "sente" o perigo e deixa de cumprir as regras.
"Se não pudermos explicar às pessoas este novo modelo, corremos o risco de voltar a ficar mal e, com isso, nesta fase, perdermos o turismo que vem ajudar a reativar a economia neste verão", justificou Froes.
O pneumologista defende um modelo que continue a integrar a incidência (número de casos por 100 mil habitantes) e o Rt (o ritmo de transmissão da infeção), mas também inclua fatores variáveis, como as novas variantes e a percentagem da população com cobertura vacinal completa. Com tal modelo, defende, evitar-se-ia a regressão "desnecessária de localidades onde a incidência até pode ser baixa".
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A próxima etapa do desconfinamento em Portugal será debatida, esta sexta-feira, numa nova reunião de especialistas no Infarmed. Raquel Duarte e Óscar Felgueiras deverão apresentar o estudo pedido pelo Governo sobre as regras a aplicar no futuro para conter a covid-19, tendo em conta um programa de vacinação que já ultrapassou as cinco milhões de doses.
"É provável que as regras sejam revistas", admitiu o primeiro-ministro, em Bruxelas, aludindo à taxa de vacinação, mas remetendo a decisão para o parecer dos especialistas.
O índice de transmissão do vírus e a taxa de incidência de novos casos de covid-19 são os dois critérios definidos atualmente para avaliar o processo de desconfinamento, concelho a concelho. Outro especialista ouvido pelo JN admitiu que a reconstrução do modelo da matriz de risco poderá dar menos peso à incidência, mas alertou para a falsa sensação de segurança que pode gerar desleixo das regras de prevenção.