Uma médica do hospital da Misericórdia de Lousada permaneceu seis horas fechada num consultório com uma paciente suspeita de estar infetada pelo Covid-19, sem resposta da Linha de Apoio ao Médico. Ao JN, a profissional de saúde relatou a situação em que ficaram, sem acesso a casa de banho e sem poderem comer ou beber.
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A médica Graciela Galbas ficou desde as 13.47 horas com a paciente de 49 anos que chegou ao consultório de máscara e com sintomas suspeitos de serem causados pelo novo coronavirus. Ao JN, relatou ter contactado de imediato a linha SNS 24 que, por sua vez, lhe pediu para ligar para a Linha de Apoio ao Médico (LAM). Assim fez. Mas ficou sem resposta porque a enfermeira com quem falou lhe disse que teria de esperar pelo contacto de um médico, uma vez que o serviço estava sobrecarregado. Passaram mais de seis horas.
Já perto das 21 horas, a situação ficou resolvida, segundo comunicou a própria médica ao JN. A doente foi enviada para casa, sem quarentena mas ficando sob vigilância.
Graciela Galbas explicou que ligou várias vezes durante a tarde para a linha e que continuaram a dizer-lhe para esperar que um médico a contactasse. E contou ainda que tentou, sem sucesso, que o Hospital Padre Américo, em Penafiel, recebesse a doente.
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O delegado de saúde de Lousada estava ao corrente e também a Câmara se envolveu no caso, através do vereador da Saúde. O marido da médica, Gilberto Machado, disse ao JN que fez os contactos para ajudar a mulher e informar o delegado, que também ainda não lhes tinha comunicado uma resposta ao problema. "O delegado de saúde já tem conhecimento do caso mas ainda não há instruções para fazer nada", queixou-se o marido. "O hospital de Penafiel também foi contactado mas disse que não podia receber a doente e o INEM recusou-se a transportá-la", explicou ainda.
A médica disse ao JN que a doente estava com queixas de "falta de ar" e que pedia insistentemente "para ir para casa". E que ela própria também estava a sentir-se muito mal, por ter "problemas de saúde" e estar sem almoçar, sem beber e sem poder ir à casa de banho.
Entretanto, o provedor da Misericórdia de Lousada, Bessa Machado, confirmou ao JN a existência deste caso. E disse que tomará medidas ao nível da triagem para evitar que se repitam situações como aquela que aconteceu no serviço de atendimento permanente.
Graciela Galbas diz, por sua vez, que a situação não é nova e que uma colega "esperou onze horas" por resposta da linha de apoio num caso semelhante.