Dezenas de médicos juntaram-se, na manhã desta terça-feira em frente ao Hospital de São João, no Porto, para exigir respostas ao Governo. A presidente da Federação Nacional (FNAM) dos Médicos garantiu que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) "está em agonia" e que a população não pode esperar mais.
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Após 19 meses de paralisações e de protestos, os médicos saíram, mais uma vez, à rua para reivindicarem aumentos salariais, a reposição das 35 horas de trabalho por semana e das 12 horas de urgência. A par da greve nacional convocada pela FNAM, que começou às zero horas desta terça-feira e que termina no final do dia de quarta, dezenas de médicos concentram-se em frente ao Hospital São João, no Porto, ao Hospital da Universidade de Coimbra e ao Hospital Santa Maria, em Lisboa.
"Governo escuta, os médicos estão em luta", era uma das frases que, quem passava perto do portão principal do Hospital de São João, conseguia ouvir. Os profissionais de saúde gritavam frases de ordem e exigiam a Manuel Pizarro soluções para um SNS que está a colapsar.
"A FNAM exige uma resposta por parte do Ministério da Saúde e do doutor Manuel Pizarro. Tendo em conta a situação dramática que se vive no SNS, nomeadamente nos serviços de urgência, entendemos que a população não pode esperar mais. O SNS está em agonia, é preciso uma resposta e não podemos ficar à espera que o tempo passe", alertou Joana Bordalo e Sá, presidente da FNAM.
Especialistas de vários hospitais
O protesto juntou médicos de várias especialidades e de diferentes hospitais e centros de saúde. O objetivo e a luta são comuns. "Temos vindo a assistir a um desinvestimento prolongado no SNS. Isto tem levado à saída de muitos colegas,o que leva a que, cada vez mais, tenhamos dificuldades em responder às necessidades da nossa população", afirmou Carla Martins, médica de medicina geral e familiar em Viana do Castelo.
"Estamos a atravessar um período muito conturbado, em que o direito à saúde, que deveria já estar mais alicerçado na nossa sociedade, está a perder-se", alertou Pedro Silva, pediatra no Centro Hospitalar de Baixo Vouga, em Aveiro.
André Nobrega, médico de medicina geral e familiar, garante que a solução passa por fixar mais médicos e que sem isso nada mudará. "Continuamos convencidos que os problemas não se vão resolver porque as soluções não vão fixar mais médicos. E se não vão fixar mais médicos, os problemas, que até o Governo admite que existem, vão continuar por resoilver: vamos continuar pendentes de horas extra, de profissionais a trabalhar muito mais do que deviam e, portanto, a prestar um serviço muito pior".
Sem data para negociar
Apesar dos longos meses de negociações entre os sindicatos médicos e o Governo, não há nenhum acordo. "Tem que haver vontade política para nos chamarem à mesa e para incorporarem as nossas soluções nesta negociação. Nós exigimos uma negociação séria, competente e com celeridade para resolver a situação do SNS. Não há SNS sem médicos mas, infelizmente, o Governo tem-nos vindo a empurrar cada vez mais para fora e, se nada for feito, isto ainda vai agravar mais", garantiu Joana Bordalo e Sá.
A última reunião, marcada para oito de novembro, acabou por ser cancelada mas para os médicos a crise política não é desculpa para as negociações não continuarem. "A luta tem que continuar. A única possibilidade de isto se suspender, era se nós perdessemos a capacidade de falar com alguém. Enquanto temos Governo em funções, nós continuamos a ter com quem falar", afirmou o médico de medicina geral e familiar, André Nobrega.