Os médicos de família podem vir a ser penalizados pelo facto das suas utentes decidirem interromper a gravidez ou contraírem doenças sexualmente transmissíveis, caso o Governo aceite os novos critérios de avaliação propostos para as Unidades de Saúde Familiar (USF) de modelo B.
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Os profissionais podem ainda ser prejudicados na avaliação se uma percentagem de doentes agudos se deslocarem às urgências hospitalares sem referenciação do centro de saúde. O objetivo é analisar se nos cuidados de saúde primários há acessibilidade para tratar estes casos.
A notícia foi avançada pelo jornal "Público" e confirmada ao JN pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM). Carla Silva, coordenadora da Comissão Nacional de Medicina Geral e Familiar da FNAM, diz ter tomado conhecimento da proposta num fórum médico online e lamenta a ausência de debate com os sindicatos, uma vez que as medidas têm impacto na remuneração dos profissionais de saúde.
Carla Silva revela ainda que os indicadores de avaliação relativos à interrupção voluntária da gravidez e às doenças sexualmente transmissíveis na mulher "causaram grande indignação" por representarem "um atentado à liberdade individual dos doentes". A FNAM apresentou queixa à Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.
A responsável diz ainda ser necessário uma "discussão pormenorizada" relativamente à penalização dos médicos de família caso uma percentagem dos utentes recorra às urgências hospitalares com doenças agudas [febre, amigdalite, gripe] sem referenciação e alerta para a necessidade de apetrechar os centros de saúde com equipamentos e recursos humanos para que consigam dar resposta a essas situações.