Médicos e enfermeiros criticam tolerância de ponto na visita do Papa
Sindicato dos Enfermeiros diz que tolerância de ponto para a visita do Papa deixará os serviços de saúde como se existisse uma greve no sector. Federação Nacional dos Médicos defende o reforço das equipas de urgência, porque as existentes estão "exaustas".
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"Os médicos estão exaustos. As equipas de cirurgia afanadas. As pessoas estão tão cansadas que ficam doentes por não aguentarem o ritmo de trabalho", disse à Agência Lusa Pilar Vicente, dirigente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM).
A situação é de tal forma grave que a FNAM vai dirigir uma carta à Ordem dos Médicos a alertá-la para a gravidade do estado das urgências hospitalares, situação que se agravou nos últimos tempos devido à saída de muitos profissionais: "Muitos médicos reformaram-se, os mais jovens saíram porque não foram contratados e a maioria dos que ficaram tem mais de 50 anos e já nem devia fazer urgências", disse.
Segundo Pilar Vicente, esta situação existe no Hospital de São José, em Lisboa, mas também na maioria dos outros hospitais que "preferem pagar fortunas a médicos já reformados para fazer urgências do que aos profissionais do quadro".
Pilar Vicente alerta para a necessidade de um reforço das equipas durante a visita do Papa, que deverá ser acompanhada por centenas de milhares de pessoas. As autoridades estimam que, só em Lisboa, onde Bento XVI estará a 11 e 12 de Maio, estejam presentes entre 200 a 300 mil pessoas.
"Não temos conhecimento de qualquer reforço das urgências, o qual seria bem-vindo, mas também não faço ideia com que meios humanos esse reforço será possível", adiantou. As equipas actuais estão "exaustas". A situação é "preocupante, principalmente porque quanto mais cansadas estiverem as pessoas, mais possibilidades há de existirem erros", frisou.
"Incoerência" do governo
Também o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) critica a tolerância de ponto e acusa o governo de ser "incoerente".
"Quando lutamos por direitos justos, o governo critica os enfermeiros pelo que fica por fazer [consultas e cirurgias programadas], mas agora é ele que promove dois dias de tolerância de ponto, cujas consequências são parecidas", disse Guadalupe Simões, dirigente do SEP.
Nestes dias, os centros de saúde e hospitais deverão funcionar como se fosse feriado ou fim-de-semana, sendo previsível o adiamento de consultas externas e de cirurgias programadas, mantendo-se o serviço de urgência a funcionar, precisamente como quando existe uma greve no sector.
O SEP, que nos últimos tempos tem decretado várias greves dos enfermeiros por razões laborais e de carreira, acha que esta concessão da tolerância de ponto demonstra "a incoerência do governo".