Presidente da FamiliarMente pede que família dos doentes mentais não seja esquecida.
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Joaquina Castelão, presidente da FamiliarMente - Federação Portuguesa das Associações das Famílias de Pessoas com Experiência de Doença Mental, considera que "é indispensável que as medidas de apoio ao cuidador (do doente mental) sejam revistas". "As famílias também adoecem e precisam de apoio. Quem convive com o doente acaba por ser um doente oculto", alertou. A presidente da FamiliarMente incitou ainda o Governo a deixar menos projetos na área da saúde mental no papel.
A FamiliarMente esteve, ontem, a ser ouvida pelos grupos parlamentares do PS, PSD e Chega, sobre a nova lei da saúde mental. A presidente da FamiliarMente insistiu na importância de existir "mais apoio aos cuidadores informais, que não são falados em lado nenhum". "As famílias precisam de apoio. Muitas vezes, entram em burnout, acusam um cansaço extremo que as leva a deixarem-se abandonar na situação e isso é a pior coisa que pode acontecer. Além do familiar doente, o resto da família deixa de ser produtiva".
A dificuldade de aplicar a lei foi outra das temáticas em discussão. A deputada do PSD Fátima Ramos disse que a "ação do Governo não pode ficar pela aprovação de uma nova lei" e que receia que "se acentue o fosso entre a teoria e a prática". Já o deputado do Chega, Pedro Frazão, referiu que "no terreno, a lei vê muitas dificuldades em ser aplicada".
Faltam pedopsiquiatraS
A presidente da FamiliarMente lembrou que, em 2020, "foi inscrito no orçamento verbas para criação das primeiras dez equipas comunitárias, cinco de adultos e cinco de crianças, o que não aconteceu porque houve cativação das verbas". "Precisamos de 106 equipas, uma por cada 100 mil habitantes no mínimo. Além das 40 que vão ser criadas, o Estado tem de continuar a investir ", apelou. Joaquina Castelão denunciou ainda que "há, neste momento, equipas destinadas à infância e adolescência que não estão a funcionar porque não têm pedopsiquiatra".
A presidente da FamiliarMente pediu ainda aos deputados para representarem "o melhor possível" "o parente pobre da saúde". "As respostas que existem (na área da saúde mental) em Portugal não dão nem para metade das pessoas", lamentou, acrescentando que "70% das pessoas com doença mental continuam sem acesso aos cuidados de saúde".