Em 2018, houve 51 óbitos por meningite e cinco por infeção meningocócica, o valor mais alto desde 2002. Vacina acima dos 65 anos em avaliação.
Corpo do artigo
Desde 2002 que Portugal não registava tantos óbitos por meningites. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), em 2018 contabilizaram-se 51 mortes por meningites, a que se somam outras cinco por infeção meningocócica. Face ao ano anterior, e em termos totais, regista-se um aumento de 44%, com mais 17 óbitos.
Numa análise mais fina, as estatísticas do INE permitem constatar que as meningites matam mais a população acima dos 65 anos, com quase dois terços dos óbitos registados em 2018. Com maior incidência nos homens, respondendo por 57% das mortes.
11893339
Explique-se que relativamente às meningites o INE contabiliza todas, menos a que é causada pelo meningococo. Ou seja, desde as virais - causadas por vírus como o enterovírus - às bacterianas - causadas, por exemplo, por pneumococo ou por Haemophilus. A infeção meningocócica diz apenas respeito à relacionada com o meningococo (Neisseria meningitidis). E, quanto a esta última, a faixa populacional mais atingida é a das crianças com menos de 14 anos. No período em análise, dos cinco óbitos registados, dois eram de bebés com menos de um ano, um com idade compreendida entre os 1-4 anos e um outro entre os 10-14 anos. Só um óbito foi de um adulto na faixa dos 55-59 anos. Face a 2017, são mais três óbitos no total, ano em que não morreu nenhuma criança por Neisseria meningitidis. Os dois óbitos verificados foram de adultos.
Mais idosos vulneráveis
Sobre os 51 óbitos por meningites, a diretora-geral da Saúde admite, em declarações ao JN, "que o que pode estar a provocar o aumento são as doenças pneumocócicas nos idosos". Sublinhando ser necessário analisar em detalhe aquelas 51 mortes - o que se tornou inviável nos últimos dias dado o volume de trabalho da Direção-Geral da Saúde (DGS) com o Covid-19 -, Graça Freitas explica que as "virais são, habitualmente, benignas; e as por Haemophilus quase desapareceram".
Já o pneumococo, prossegue aquela responsável, pode desencadear processos de pneumonia (também a aumentar, com 5764 óbitos em 2018), de meningite e de septicemia. Sendo esta "uma bactéria que afeta muito frequentemente pessoas com uma certa idade", explica Graça Freitas. E se "há uns anos se fazia pouco diagnóstico etiológico, hoje há mais diagnósticos", mas também "mais idosos vulneráveis", frisa a diretora-geral da Saúde.
Razões que levam os pneumologistas a pedirem a gratuitidade da vacina antipneumocócica a todas as pessoas com mais de 65 anos. Ao JN, Graça Freitas revela que a "Comissão Técnica de Vacinação está a estudar qual o impacto do pneumococo nos adultos acima dos 65 anos e, se for vantajoso, pode vir a ser recomendada". Ainda este ano, garante, sairá "alguma recomendação intercalar".
Meningocócica rara
Se o pneumococo é pouco frequente nas crianças, tal não se verifica com o meningococo. "A doença invasiva meningocócica [DIM) é mais letal nas crianças, mas mais rara", esclarece.
De acordo com os dados da DGS, ainda provisórios, no ano passado registaram-se 55 casos de DIM, menos dois do que em 2018. Nos últimos cinco anos, "foram notificados, em média, 54 casos por ano".
A taxa de incidência, em 2018, foi de "0,59 casos por 100 mil habitantes, semelhante à média dos países europeus", sendo que a "maior incidência da doença concentra-se nos menores de cinco anos". Os óbitos "ocorrem esporadicamente, variando, nestes cinco anos, entre dois a seis óbitos", por ano. "Cerca de metade", especificam, "em maiores de 60 anos".