Números baixaram em ano de pandemia. Quanto mais cedo, maior a taxa de sucesso de aleitamento materno.
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Peça-chave no sucesso do aleitamento materno exclusivo e na proteção contra infeções, a amamentação na primeira hora de vida chega, em média, a cada seis em dez recém-nascidos em Portugal. Proporção que baixou em 2020, ano em que a pandemia obrigou a esforços redobrados na proteção das grávidas. O contacto pele-a-pele ficou-se pela mesma ordem de grandeza.
De acordo com informações do Consórcio Português de Dados Obstétricos, no ano passado, a taxa de amamentação na primeira hora fixou-se nos 54%, contra 61% em 2019. Com tendência de subida este ano, com 57% dos recém-nascidos a serem amamentados logo na primeira hora de vida até junho.
Para o obstetra Diogo Ayres de Campos a pandemia poderá explicar esta redução, que relativiza. Na medida em que aquando dos nascimentos poderia ainda não haver resultados dos testes à SARS-CoV-2. A que acrescem outros fatores, independentes da pandemia, como as condições da mãe e do bebé. Como sejam partos por cesariana com anestesia geral - "pouco frequentes, 1% a 2%" - ; hipertensões graves; ou a ida do recém-nascido para unidade de neonatologia.
É, no entanto, um "indicador que pode ser melhorado", entende o também diretor do Serviço de Obstetrícia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte. "Não é uma tragédia, mas deveria estar na casa dos 80% a 90%", explica ao JN.
As vantagens são várias e conhecidas. Tanto da amamentação na primeira hora como do contacto pele-a-pele. Desde logo, "favorece, muito, o sucesso da amamentação a longo prazo, aumentando de forma substancial a percentagem de mulheres que continua a amamentar aos cinco e seis meses", prossegue Diogo Ayres de Campos, que pertence, também, à comissão científica instaladora do referido consórcio.
Depois, "é a única forma do recém-nascido adquirir anticorpos". O que leva a uma "redução enorme da incidência de infeções, nomeadamente gastrointestinais, nos primeiros meses de vida". Pelo que, defende o obstetra, "quanto mais precoce a amamentação, maior a taxa de sucesso".
O Consórcio Português de Dados Obstétricos agrega informação estatística de 13 unidades hospitalares públicas, que respondem por "cerca de 25% a 27% dos partos em Portugal". No primeiro semestre deste ano, 31,24% dos partos realizaram-se por cesariana.