Quase metade dos agrupamentos de centros de saúde (Aces) do país já têm em funcionamento o projeto "Via Verde ACES" que pretende retirar das urgências dos hospitais os doentes triados com pulseiras verdes e azuis (pouco ou nada urgentes), agendando-lhes uma consulta no centro de saúde no prazo máximo de 24 horas.
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Do total de 55 Aces que existem no país, 27 (49%) operacionalizaram a medida para aliviar a pressão das urgências. Daqueles 27, 19 são do Norte e oito de Lisboa e Vale do Tejo, região que tem tido mais dificuldades em lidar com o aumento da procura das urgências. Os dados, bem como a informação sobre os hospitais com os quais se articulam os Aces foram enviados ao JN pelo Ministério da Saúde.
Adesão voluntária
Segundo os mesmos dados, por exemplo, o Centro Hospitalar e Universitário do Porto pode reencaminhar os doentes que chegam à urgência e são triados como não urgentes ou pouco urgentes agendando-lhes consulta nos centros de saúde que integram os Aces Grande Porto V - Porto Ocidental e do Grande Porto II - Gondomar.
A Via Verde Aces é uma das medidas previstas no Plano Estratégico do Ministério da Saúde para este Inverno. Nasceu como projeto-piloto em 2016, em dois hospitais do Norte e, lentamente, foi sendo alargado a outras unidades.
Como o JN chegou a noticiar, os resultados nem sempre foram convincentes porque o projeto é de adesão voluntária e muitas vezes os doentes recusam sair do hospital, por sentirem que ali terão melhor resposta ao seu problema. Resta saber se o alargamento a mais unidades e o empenho da tutela no projeto vai alterar este sentido.
Nas últimas semanas, a região de Lisboa e Vale do Tejo tem tido dificuldades em responder aos picos, com vários hospitais a atingir o limite e a pedirem o desvio dos doentes que acabam, muitas vezes, por ser encaminhados pelo INEM para o Hospital de Santa Maria que, dia após dia, bate recordes de tempos de espera.
Esta terça-feira de manhã, o Ministério da Saúde reuniu-se com os presidentes dos conselhos de administração e com os diretores clínicos de todos os hospitais da região com urgência para fazer um ponto de situação da implementação do plano de inverno.
Procura superior a 2021
"A afluência aos serviços de urgência geral encontra-se neste momento acima do período homólogo de 2021, verificando-se um acréscimo no recurso à urgência pediátrica", revela o ministério, em comunicado. Acrescentando que há duas realidades distintas: "por um lado, um recurso elevado às urgências em situações não urgentes; por outro lado, situações de maior complexidade clínica relacionadas com patologia crónica e com o envelhecimento da população, que motivam maior pressão sobre o internamento".
Entre as medidas em cima da mesa, a tutela definiu como prioridade agilizar as equipas de gestão das vagas de internamento em cada unidade, e acelerar o trabalho com o setor social para resposta aos chamados internamentos sociais, tendo já sido contratualizadas 700 camas.
Nos cuidados primários, além do projeto via verde Aces, "está em curso o reforço dos atendimentos em horário alargado e complementar" nos centros de saúde. Segundo dados do Portal do SNS, há 176 centros de saúde abertos para lá do horário normal, aos quais os utentes podem recorrer mesmo que não seja o da respetiva área de residência.
A tutela recorda aos doentes que, em situações não emergentes, contactem em primeiro lugar o SNS24 para o encaminhamento adequado a cada situação.