Mais de metade dos suicídios registados em 2013 ocorreram por enforcamento, estrangulamento e sufocação. Este foi o método usado por 533 das 1051 pessoas que, naquele ano, puseram termo à vida, segundo o relatório "Saúde Mental em Números - 2015", apresentado pela Direção-Geral da Saúde.
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Do total de suicídios registados em 2013, 98 foram consumados através do disparo de armas de fogo e 97 por autointoxicação. Houve 84 vítimas que optaram por se precipitar de um lugar elevado e 73 por afogamento e submersão. Apesar do suicídio ser mais prevalente entre os homens, os métodos usados não diferem consoante o género.
O documento da DGS aponta para um aumento da taxa de mortalidade por suicídio em 2014 (11,7 por cem mil habitantes) face a 2012 e 2013 (10,1 por cem mil), mas a evolução pode estar relacionada com a introdução de um novo método de registo das causas de morte em Portugal, o Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (Sico).
"Não sabemos, nem podemos medir, a evolução do suicídio em Portugal, devido a uma quebra de série", disse o diretor-geral da Saúde, citado pela agência Lusa, acrescentando que, por esta razão, não se pode dizer que houve um aumento do suicídio.
Até 2014, explicou Francisco George, o certificado de óbito era em papel assinado pelo médico. "Muitas vezes - por pressão da família ou por motivos religiosos -, o suicídio era subnotificado", pelo que "terão existido mais suicídios do que os notificados". Há dois anos, iniciou-se uma nova série, com o registo eletrónico, que "veio reduzir a subnotificação", disse o responsável, admitindo que esta dificuldade em medir o suicídio é "motivo de inquietação".
Mais suicídios em tempo de crise
O relatório do Programa Nacional de Saúde Mental analisou a variação da mortalidade por suicídio em três intervalos de tempo (1989-1993, 1999-2003 e 2008-2012) e concluiu que o último intervalo - que coincide com o período de crise económica - apresentou "a mortalidade por suicídio mais alta", assim como "a taxa bruta mais alta".
Enquanto no primeiro e segundo intervalos (1989-1993 e 1999-2003), a taxa de suicídio diminuiu 5,4%, entre o segundo e o terceiro (2008--2012) aumentou 22,6%.
Maior incidência entre idosos
De acordo com o relatório, continua a crescer a taxa de suicídios nos grupos etários dos 40 aos 64 anos - "a idade do "muito novo para ser reformado e demasiado velho para trabalhar", um comentário ouvido com frequência em cinquentenários com ideação suicida", como referem os autores do documento.
Porém, a incidência mais expressiva da mortalidade por suicídios é entre os 75 e os 84 anos. É aliás, a incidência de suicídios acima dos 65 anos (20,62 por cem mil habitantes) que deixa Portugal pior na fotografia europeia, cuja média nesta faixa etária é de 16,87 por cem mil habitantes.
Apesar das limitações nas comparações, o aumento dos suicídios entre as mulheres é outro dos pontos referidos no relatório como "muito preocupante" (297 mulheres e 920 homens). O documento assinala ainda que a distribuição geográfica do suicídio (tradicionalmente menor no Norte e maior na Região Sul) tem vindo a esbater-se "devido ao aumento das taxas na Região Centro e no interior da Região Norte".