A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, advertiu esta sexta-feira, em Lisboa, que os valores europeus estão cada vez mais ameaçados, mas defendeu também que a Europa está mais forte que nunca.
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A líder europeia recebeu, esta sexta-feira, o título de doutor Honoris Causa, atribuído pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), da Universidade de Lisboa, uma distinção que disse receber como "uma responsabilidade de continuar a defender a Europa".
"Como um ímpeto renovado para avançar na defesa dos nossos valores europeus comuns de liberdade, democracia, igualdade e justiça - que, porventura com demasiada frequência, tomamos por garantidos. E que estão a ser cada vez mais ameaçados", afirmou, durante a cerimónia.
Por outro lado, Metsola acentuou que "vivemos tempos difíceis".
"Mas, como diz o ditado português: 'O ferro mais forte é forjado no fogo mais quente'. É por isso que defendo que a Europa está mais forte do que nunca. Por causa e não apesar dos desafios que se nos depararam", sublinhou a presidente do Parlamento Europeu.
"Não cedam ao conforto do cinismo fácil"
A presidente do Parlamento Europeu apelou ainda ao voto nas eleições europeias de 9 de junho, pedindo aos portugueses que "não cedam ao conforto do cinismo fácil", enquanto enalteceu o que chamou de "efeito português".
"Se a Europa ainda não é o lugar que querem que seja, compreendam que a responsabilidade de a mudar é tanto vossa como de qualquer outra pessoa. (...) Não cedam ao conforto do cinismo fácil nem se deixem influenciar pelas soluções ocas para questões complexas apresentadas pelos extremos políticos", pediu a líder europeia, durante a cerimónia.
"Levanta-te, sê a mudança, faz com que a tua voz seja ouvida. Para de esperar que alguém o faça. No dia 9 de junho, vai votar e faz parte desse histórico efeito português", pediu Metsola.
Durante a sua intervenção, a presidente do Parlamento Europeu defendeu que Portugal "é um país que personifica o que significa ser europeu", com "um povo que simboliza o espírito de resiliência, de solidariedade e de união - valores que a Europa tem de continuar a abraçar".
"É aquilo a que chamo o efeito português", sustentou.
"Estamos na cidade da Europa - o Tratado de Lisboa definiu a Europa moderna. Em 2007, os líderes europeus, liderados por José Manuel Durão Barroso na Comissão [Europeia], reuniram-se aqui, numa poderosa combinação de simbolismo e ambição orientada para o futuro, para definir o caminho da Europa; isso significou um Parlamento Europeu mais forte mas, mais importante, significou que fomos capazes de enfrentar juntos os desafios da última década e meia. Agora, precisamos de encontrar esse mesmo espírito - essa coragem política - para dar os próximos passos", sublinhou Metsola.
Portugal, prosseguiu, "compreendeu, mais cedo e talvez melhor do que a maioria, que nunca poderemos ser livres enquanto não formos todos livres, que nunca poderemos estar seguros enquanto não estivermos todos seguros".
"E que uma Europa unida é a melhor garantia para todos os nossos povos", salientou.
Esse "efeito português", ilustrou, ficou patente quando, dias depois da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022, se encontrou em Estrasburgo, França, com um grupo de mulheres e crianças refugiadas ucranianas que se dirigiam para o Porto.
"Foi um momento emotivo, mas que mostrou que, mesmo nos momentos mais difíceis, Portugal não fugiu às suas responsabilidades. Dos valores que o guiaram das garras da opressão para a democracia em direção ao coração da União Europeia. (...) Foi o melhor da Europa em exibição", descreveu.
Portugal é "a nação onde a Europa começa" e "a porta de entrada para o resto do mundo", frisou.
E concluiu: "Da América Latina, da África à Ásia, os vossos laços únicos permitiram que a Europa falasse com uma voz global e ouvisse de uma forma que permite um entendimento comum e protege o multilateralismo".
A presidente do Parlamento Europeu prossegue esta sexta-feira a sua visita a Portugal, que tem como principal objetivo combater a abstenção nas próximas eleições europeias, com encontros com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.