Livreiros reclamam que têm encomendas paradas há 15 dias, mesmo com sistema informático a revelar stock para entrega, e temem extermínio.
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Milhares de alunos estão ainda sem receber os manuais escolares que encomendaram no final de agosto, com ou sem vouchers, porque a Porto Editora, que detém mais de 60% de quota no livro escolar, não está a fazer entregas aos livreiros independentes. Os empresários temem estar a ser vítimas de uma estratégia para "empurrar" clientes para os sites da editora e acabar com os pequenos negócios. A Porto Editora desmente, garante que 95% das encomendas já foram entregues e assegura que os sites têm stock próprio.
"Desde 30 de agosto que não recebo uma única encomenda da Porto Editora", queixou-se a proprietária de uma papelaria em S. João da Madeira. Com centenas de manuais pedidos e sem satisfações da editora, a empresária refere que "todos os dias vão clientes para trás, insatisfeitos, que acabam por tentar a sua sorte a encomendar online e recebem antes de mim".
A situação não é inédita: pelo menos uma dezena de livreiros do distrito do Porto - Póvoa de Varzim, Paredes, Valongo, Castelo de Paiva, Paços de Ferreira - partilham angústias. "Há cinco anos, fazíamos uma encomenda e em 24/48 horas estava cá. Este ano, estão atrasadíssimas, sem justificação. O mercado não aumentou, a logística melhorou e tudo devia ser mais rápido, como aconteceu com as restantes editoras", queixou-se outro livreiro, com três mil manuais escolares encomendados e sem entregas há duas semanas.
Dificuldades de stock
"Tenho centenas de encomendas por satisfazer, com mais de 700 livros encomendados, por vezes por uma ou duas faltas não consigo completar o pedido do cliente", acrescentou um profissional com meio século de experiência no setor. "Não estão esgotados, porque o sistema diz que existem, só não são enviados. Isto só pode ser uma estratégia para nos exterminar", lamentou o empresário que, tal como os anteriores, não quer ser identificado por "receio de represálias".
Fonte da Porto Editora assegurou que "o abastecimento do mercado de livros escolares está praticamente terminado, com mais de 95% dos manuais do Grupo Porto Editora entregues aos livreiros e alunos", sendo estas encomendas por satisfazer "casos pontuais". Pode haver ainda uma questão de tesouraria, acrescentou: "Em algumas destas situações, estas papelarias ultrapassaram o limite de crédito, o que cria dificuldades na resposta aos pedidos dos seus clientes". Ou de falhas pontuais no stock: "A reutilização de manuais escolares introduz uma dificuldade na previsão e no planeamento das necessidades para o início do ano letivo".
As papelarias ouvidas pelo JN asseguram que não só não esgotaram o limite de crédito para as encomendas, como ainda têm "dinheiro a haver da Porto Editora".
No que respeita ao facto de o prazo de entrega a particulares que adquirem os livros online nas plataformas do grupo ser menor - dois dias - do que o tempo decorrido desde que os livreiros aguardam, a mesma fonte assegurou que cada site tem stock próprio e não está a ser dada prioridade aos particulares face aos livreiros.
Processo demorado
A plataforma MEGA começou a emitir vouchers a 2 de agosto, contudo só para os alunos do 8.º e 11.º anos. Só uma semana depois foram emitidos para os restantes anos. Assim, só em pleno mês de férias as famílias conseguem encomendar.
Prazo apertado
Desde que começaram a ser emitidos os primeiros vouchers e até ao final da semana passada - cerca de três semanas - foram utilizados 90% dos vouchers, o que corresponde a cerca de 3,5 milhões de manuais.
Fichas à parte
Os livros de fichas não são contemplados pelos vouchers e muitas famílias optam por encomendar só depois das aulas começarem, por recomendação de cada professor. Com as encomendas paradas desde o final de agosto, os livreiros não sabem quando vão conseguir receber as encomendas deste mês.