Milhares de emigrantes estão a regressar a Portugal em fuga de vários países europeus afetados pelo surto epidémico, que por cá já fez uma vítima mortal e infetou 448 pessoas.
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À fronteira nacional chega quem ficou sem trabalho devido ao coronavírus - principalmente na área da construção civil. Mas também os que tentam escapar ao avanço da Covid-19 nos países onde estavam e os que querem juntar-se às famílias.
Ao Hospital de Braga já se dirigiram, nos últimos dias, emigrantes vindos de França, Bélgica e Suíça para despistagem da infeção. Os autarcas das localidades para onde estão a rumar os emigrantes mostram receio com a possibilidade de estarem a entrar novos focos da doença.
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Além daqueles três países, é de Espanha que está a chegar mais gente aos nove postos de fronteira que, desde segunda-feira à noite, estão apenas abertos à passagem de mercadorias, trabalhadores transfronteiriços e cidadãos nacionais e com residência fixa cá.
Ao JN, uma fonte do Serviços de Estrangeiros (SEF) confirmou aquilo que na terça-feira era visível na fronteira: carrinhas cheias de portugueses, quase todos trabalhadores da construção civil, com cara de medo.
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"Estamos sem trabalhar há algum tempo e não é possível continuar em Espanha, porque não há condições", disse ao JN José Meirinho, de Vimioso, que não espera regressar ao país vizinho antes de 30 de março - quando termina o prazo da quarentena em vigor por lá.
Não só aquele emigrante, que garantiu que irá ficar em quarentena voluntária, como tantos outros com quem o JN falou foram proibidos pela GNR e SEF de saírem dos veículos onde seguiam, nem sequer para descansar. Os seus documentos foram fiscalizados dentro dos carros.
Monitorização nas aldeias
"Há algumas medidas para monitorizar a chegada dos emigrantes. As juntas de freguesia estão a ter um papel muito importante e, por isso, reuni ontem com elas para, quando chegar alguém vindo de França, identificarem as pessoas e transmitirem a informação aos serviços de saúde, para um primeiro contacto com essas pessoas", explicou Manoel Batista, presidente da Câmara de Melgaço, que não duvida que os emigrantes vão chegar, apesar das limitações impostas.
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Semelhante atuação teve António Barbosa, presidente da Câmara de Monção, que pediu às freguesias que identifiquem quem chega. "Estamos a ligar a essas pessoas, uma por uma, para ficarem em isolamento social", disse, lamentando "que não haja instruções de ninguém". "Estamos de livre iniciativa a fazer o que achamos ser importante para minimizar o impacte de uma crise sem precedentes. Ainda hoje [ontem] ligámos a uma empresa que teve três trabalhadores em França", disse.
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Segundo o SEF, as entradas em Portugal estão a ser monitorizadas com a Direção-Geral de Saúde, mas no terreno o JN não viu panfletos informativos a serem entregues. Quem entra é aconselhado a "adotar medidas para sua proteção individual" e "a colaborar com as autoridades de saúde na identificação das possíveis cadeias de transmissão", disse o SEF.
O primeiro-ministro revelou, ontem, que o Ministério dos Negócios Estrangeiros conseguiu já repatriar 408 pessoas, no último mês, que estavam "em países terceiros, em trabalho ou em férias" [ler texto ao lado]. "Este tem sido um esforço do MNE, tendo em conta as medidas de quarentena", disse António Costa.
Número
30 inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) destacados para os nove pontos de passagem autorizados entre Portugal e Espanha. Os locais de passagem mais procurados foram Vilar Formoso, no Centro, e Vila Real de St.º António (Algarve).