Milhares na Av. da Liberdade: "Somos muitos, muitos mil para continuar Abril!"
Milhares de pessoas descem a Avenida da Liberdade, esta terça-feira à tarde, para celebrar o 49.º aniversário do 25 de Abril, em Lisboa. Ao desfile juntaram-se largas centenas de professores por uma escola pública livre e de qualidade.
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A tarde do Dia da Liberdade começou para muitos na rotunda do Marquês de Pombal, em Lisboa. "Somos muitos, muitos mil para continuar Abril!", ouve-se um pouco por toda a avenida. Vive-se um sentimento de liberdade, num ambiente de festa em direção à Praça do Rossio. Ainda assim, muitas pessoas descem a avenida a reivindicar melhores condições de trabalho, uma habitação digna e uma educação de qualidade. Mais à frente do desfile seguem dois tanques de guerra dos capitães que fizeram a revolução.
Muitos populares desfilam acompanhados por familiares e amigos com cravos na mão ou ao peito para celebrar a liberdade. Alguns erguem cartazes onde se pode ler mensagens como "Viva o poder popular", "Fascismo nunca mais" e "Menos ódio, muito mais fraternidade". Outros, com o calor, aproveitam os bancos à sombra ao longo da avenida para descansar um pouco.
Entre os sons de tambores, uma mistura de músicas de intervenção e cânticos, ouvem-se os apitos e buzinas dos professores e técnicos operacionais. Largas centenas acompanham uma carrinha do Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (S.TO.P.). "A escola está na rua, Governo a culpa é tua" e "As escola a lutar também estão a ensinar" são algumas das palavras de ordem que repetem em uníssono, seguindo o que o coordenador do sindicato, André Pestana, vai dizendo ao microfone.
A nossa liberdade neste momento está ameaçada
"Considero que a nossa liberdade neste momento está ameaçada. Estou cá porque não admito um Portugal sem liberdade, como o que tínhamos ainda há pouco tempo. Lutámos tanto por ela", partilha Maria José Monteiro. A professora com 33 anos de carreira traz vestida uma blusa personalizada para a ocasião: "Mafalda" (uma dos personagens mais conhecida da história da banda desenha), com uma boina e um cravo na cabeça, um lápis numa mão e um livro na outra, exclama que "sem educação não há liberdade". E é essa a luta que trouxe Maria José Monteiro da Figueira da Foz até às ruas de Lisboa. "Há muito tempo que lutamos por melhores condições na nossa profissão, mas neste momento é mais sério do que isso. Lutamos mesmo pela escola pública e pela educação livre, gratuita e com qualidade".
A esta mensagem junta-se a colega Fátima Bentancourt. "Nós vamos trabalhar por amor à camisola, não porque nos respeitam", afirma. A professora, igualmente perto da reforma, não tem esperança de passar do 5.º escalão. "Ninguém chega ao topo da carreira com estas regras. Demoramos anos a subir de escalão, com avaliações e quotas injustas. Estou-me quase a reformar, fiz uma simulação e não chega a 900 euros líquidos", diz com alguma indignação. "Não há nenhuma profissão do mundo que não comece numa escola. Sem bons professores, com vontade de trabalhar, não há futuro", alerta.
Maria Isabel Monteiro, professora do 1.º ciclo há 34 anos, também partilha o mesmo cansaço. "Nós, mono docentes, não vamos ter redução da carga letiva ao longo da nossa carreira. O final de uma carreira contributiva igual aos outros professores equivale a mais 18 anos na nossa", lamenta.
O desfile, que acontece todos os anos para celebrar os valores de Abril, conta com a participação de várias estruturas da sociedade civil, como a Associação 25 de Abril, a União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), o Movimento Vida Justa, o Movimento Democrático de Mulheres (MDM), o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e Pela Paz no Médio Oriente (MPPM), bem como as centrais sindicais - CGTP e UGT.
Às comemorações no centro lisboeta juntaram-se também os cortejos dos vários partidos com representação parlamentar: o PCP, o PS, o BE, o Livre, o PAN e a Iniciativa Liberal (que se volta a juntar à marcha depois de dois anos a descer a avenida num desfile à parte).