UGT avisa que "o tempo é de mobilização e luta" e CGTP lembra que desenvolvimento do país não se faz com "medidazinhas". 1.º de Maio saiu aos Aliados contra o aumento do custo de vida.
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Num país onde um em cada dez trabalhadores vive em situação de pobreza, a luta contra o empobrecimento e o aumento do custo de vida marcou, esta segunda-feira, as comemorações do Dia do Trabalhador, com milhares de pessoas a encherem as ruas do Porto e de Lisboa. Unindo gerações, e no dia de entrada em vigor da Agenda para o Trabalho Digno, CGTP e UGT saíram em defesa de melhores salários e dos direitos dos trabalhadores.
No Porto, o mote estava dado ainda a marcha do 1.º de Maio não tinha arrancado. À descida para a Avenida dos Aliados, ouvia-se numa passadeira: "Há trabalhadores que trabalham e empobrecem". Ao JN, o coordenador da União de Sindicatos do Porto e membro da Comissão Executiva da CGTP, Tiago Oliveira, sublinhava o facto de os trabalhadores precisarem de "apoios para terem uma vida digna". Sobre a Agenda do Trabalho Digno, disse que "continua a perpetuar a precariedade e a caducidade da contração coletiva".
Em Lisboa, a líder da CGTP, Isabel Camarinha, frisava que, para "desenvolvermos o país não podemos continuar neste caminho do empobrecimento. Não é com medidazinhas, é com o aumento de salários e pensões, com a taxação dos lucros, com o controlo dos preços". Defendendo um "aumento imediato de 10% [do salário nacional], no mínimo de 100 euros, com efeitos a janeiro".
"O tempo é de mobilização e de luta", lembrou o secretário-geral da UGT, Mário Mourão. "Se assistirmos a um agravamento da situação económica e social do país, não teremos hesitações e acionaremos a cláusula de salvaguarda [do Acordo de Melhoria dos Rendimentos, dos Salários e da Competitividade], para que situações passadas não se voltem a repetir, nomeadamente as que fragilizam a situação já precária dos trabalhadores e das famílias".
Gerações unidas
Porque "o custo de vida o aumenta, o povo não aguenta" e porque "não podemos aceitar empobrecer a trabalhar", como se ouviu na Baixa do Porto, sob o olhar curioso dos turistas. Numa marcha que juntou famílias como a de Diana Magalhães, que marcava presença nos Aliados com as filhas de cinco e de nove anos, a mãe Maria do Carmo e o tio Manuel Santos. Pelos "direitos dos trabalhadores e pela paz", dizia-nos Maria do Carmo, ativista do Conselho Português para a Paz e Cooperação. Que, olhando para as netas, explicava a "importância de saber que as coisas não caíram do céu, mas foram conquistadas".
No espírito de Abril. Nos cravos ao peito. Na "Grândola, Vila Morena" que se cantou. E que o maestro José Luís Borges Coelho todos os anos leva àquela mesma avenida, dirigindo o seu Coral de Letras da Universidade do Porto nas comemorações do 25 de Abril. Ao JN, mostrava-se "preocupado, mas confiante". Acompanhava-o a amiga Ana Luísa, engenheira e coralista, que se move, "particularmente, pela igualdade de direitos". Com "diferenças salariais terríveis para o mesmo cargo de responsabilidade", a comprovar que "há muito Abril por fazer", dizia.
De boina e "contra o esquecimento" assistiam, nos Aliados, António Oliveira, Arlindo Gomes e Germano Miranda que combateram em Moçambique. Num 1.º de Maio que juntou, no Porto, professores, bolseiros, profissionais de saúde, pensionistas e em que os setores do Comércio, Indústria, Cultura, entre tantos outros, se fizeram ouvir.