As Forças Armadas (FA) vão ficar responsáveis pelo armazenamento estratégico de medicamentos e equipamentos de proteção contra o Covid-19, podendo até vir a produzir fármacos no Laboratório Militar em caso da rutura de stocks.
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As equipas de descontaminação da Unidade Militar Laboratorial de Defesa Biológica e Química do Exército estão também de sobreaviso. Portugal registou, ontem, dois novos casos da doença - um no Porto, outro em Lisboa - com ligações com um dos dois casos internados nos hospitais de São João e Santo António.
O recurso aos militares acontece a pedido da Direção-Geral da Saúde (DGS), que está a concluir o Plano de Contingência contra o coronavírus - até agora, a estratégia é a que foi usada na Gripe A. O JN questionou o Ministério da Defesa, que remeteu detalhes para as próximas horas. Ontem, o Governo reuniu a Comissão Nacional de Proteção Civil para afinar a estratégia.
Em audição na Comissão Parlamentar da Saúde, a ministra Marta Temido revelou que o Laboratório Militar pode ser acionado "se o Infarmed o suscitar". Segundo a governante, a colaboração com a Defesa para a "disponibilização de meios militares" está a ser trabalhada e deu como exemplo o recurso ao Hospital Militar do Porto, para receber alguns dos portugueses regressados de Wuhan, que acabou por não se efetivar.
De acordo com o brigadeiro-general Jácome de Castro, o Hospital das Forças Armadas, no Lumiar, será usado como "internamento supletivo". "Se necessário poderá ser ativado o hospital de campanha, para internamento e apoio aos cuidados intensivos", afirmou, anteontem, na RTP.
Transmissão foi em Portugal
Os dois novos infetados (um de Coimbra, outro de Lisboa) são um homem de 60 anos, hospitalizado no São João, e outro de 37, no Curry Cabral, em Lisboa. Segundo a DGS, foram contaminados em Portugal por um dos dois primeiros infetados: um médico de 60 anos oriundo de Itália que está no Santo António; e outro de 33 hospitalizado no São João vindo de Espanha - e que o primeiro-ministro visitou ontem, à distância.
António Costa garantiu que o Serviço Nacional de Saúde tem capacidade de expansão e que, se houver um grande aumento da epidemia, terá de haver "flexibilidade" e que muitos dos doentes poderão ser tratados em casa. Ontem, havia quatro casos suspeitos em análise.
"Muitos dos doentes que hoje estão internados, porque estamos em fase de contenção, podem perfeitamente estar em isolamento na sua própria casa, visto que em muitos casos a sintomatologia é muito semelhante à das gripes", referiu. O S. João tem atualmente 25 camas preparadas para o novo coronavírus, quatro em Cuidados Intensivos, mas há capacidade "para alargar a oferta", segundo o presidente do hospital, Fernando Araújo.
O primeiro-ministro assegurou que não faltará dinheiro para lidar com o Covid-19: "Não é seguramente um problema". Anteontem, a Ordem dos Médicos pediu uma linha de financiamento específica para que os hospitais tenham autonomia.
Alerta
PSP sem meios para enfrentar o vírus
Os agentes da PSP não receberam "qualquer informação sobre como atuar numa situação em que o [corona]vírus esteja em fase propagação". A denúncia é feita pelo Sindicato Nacional da Polícia, que alega ainda que "não existe ampla divulgação de normas orientadoras para lidar com este tipo de coronavírus, assim como não existe em quantidade suficiente equipamentos de auto-proteção". "Cremos que um dos cenários de maior risco seja quando o profissional da PSP efetua os testes de alcoolemia e é atingido com o sopro de quem está a ser testado", refere o sindicato.