Ministra diz que Pizarro criticou centralismo e "não caiu o Carmo e a Trindade"
A ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, lamentou esta quinta-feira as críticas de que foi alvo quando acusou o Governo de ser centralista, afirmando que Manuel Pizarro, ministro da Saúde, "disse o mesmo e não caiu o Carmo e a Trindade". Num debate sobre descentralização, criticou ainda o "calvário" dos avisos e disse também não ser possível o Governo dar autonomia às Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) e, ao mesmo tempo, indicar os vice-presidentes para cada área, assegurando que não o fará.
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Na Fundação Serralves, no Porto, durante o discurso de encerramento de mais um debate do ciclo "Portugal por inteiro", Ana Abrunhosa lembrou que foi atacada quando denunciou o centralismo do seu próprio Governo, chefiado por António Costa. Em entrevista ao JN, em junho de 2021, considerou tratar-se de "um dos governos mais centralizadores" com que trabalhou, e repetiu estas críticas numa sessão com autarcas, em dezembro daquele ano, a propósito dos 20 anos da inscrição do Alto Douro Vinhateiro na lista do Património Mundial da UNESCO.
Ana Abrunhosa destacou, esta quinta-feira, o facto de Manuel Pizarro não ter sido criticado quando afirmou, esta semana, que "as forças do centralismo são muito poderosas" e que é por isso que, ao fim de décadas de democracia, Portugal "continua tão centralista", reconhecendo que "há muitas resistências" ao processo de descentralização. O ministro falava a propósito de um entendimento com a Câmara do Porto para concretizar a descentralização de competências na área da Saúde. A ministra da Coesão diz que isto só prova que "já se estão a mentalizar".
Já sobre o processo de transferência de competências para as CCDR, que dominou o debate, destacou que "não podemos, por um lado dizer que vão ser autónomas e, depois, dizer atenção: vão ser autónomas mas têm de ter um vice-presidente desta área, desta e daquela". "Não é possível fazer-se assim e não vou fazer assim", garantiu a ministra da Coesão Territorial.
No debate moderado por Inês Cardoso, diretora do JN, Ana Abrunhosa recordou que as áreas que cabem aos vice-presidentes ficarão decididas nos estatutos que, por sua vez, "dependerão de cada região". E, "se todas as áreas começarem a fazer essa reivindicação não há vice-presidentes que cheguem", avisou a ministra. Admitiu ser "razoável" que a Agricultura tenha destaque ao nível da direção, devido ao "peso que tem" na respetiva região, mas insistiu que isso será decidido pelas direções.
Além de assegurar que "os serviços das CCDR não são de dupla tutela", a ministra disse ainda que terminará "o calvário dos avisos" lançados para apoios, notando que "os ministros não têm que estar a ler avisos" e que não fazia sentido serem aprovados pelo Governo.