Eurico Castro Alves, o ex-coordenador do Plano de Emergência e Transformação da Saúde e já apelidado "ministro- sombra" da Saúde pela influência junto do ministério de Ana Paula Martins, perdeu as eleições para presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos. O médico José Torres da Costa foi o vencedor.
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É a surpresa das eleições da Ordem dos Médicos (OM), que terminaram ontem, e contaram com um total de 16721 votos.
O bastonário Carlos Cortes foi reeleito, assim como os presidentes dos conselhos regionais do Centro, Manuel Teixeira Veríssimo, e do Sul, Paulo Simões.
Para o Conselho Regional do Norte havia duas listas, uma encabeçada por Eurico Castro Alves, que ocupou o cargo nos últimos anos, e outra liderada pelo médico José Torres da Costa.
Foi a vitória da "independência da Ordem dos Médicos face aos poderes públicos e políticos", destacou José Torres da Costa. Ao JN, o médico realçou que a questão da independência da OM era essencialmente o que separava a lista C da lista A.
Torres da Costa foi um dos promotores de uma carta aberta que questionava "a existência de conflitos de interesse em vários dirigentes" da Ordem, com Eurico Castro Alves à cabeça, em Dezembro passado.
Na carta, os signatários contestavam o facto de Castro Alves ter coordenado o Plano de Emergência e Transformação na Saúde e depois integrar também o grupo de trabalho nomeado em Setembro pelo Ministério da Saúde para acompanhar a concretização deste plano.
O imuno-alergologista foi também o autor de um artigo de opinião intitulado "O talentoso ministro-sombra", que lhe valeu a abertura de um processo displinar em dezembro do ano passado.
O artigo não menciona o nome de Eurico Castro Alves, mas o próprio sentiu-se visado pelas críticas. No Parlamento, Castro Alves considerou a acusação "injusta e perversa" e negou ter esse nível de influência junto de Ana Paula Martins.
O processo disciplinar a Torres da Costa foi arquivado cerca de um mês depois e não foi tema durante a campanha por decisão do próprio.
A contagem dos votos ainda não foi divulgada pela Ordem dos Médicos, mas a lista C terá ganho com uma diferença de 700 a 800 votos.
Segundo dados revelados pelo Observador, Castro Alves obteve 4225 votos, enquanto a lista encabeçada por Torres da Costa recolheu 4968 votos.
A abstenção dos médicos nestas eleições é, na opinião de Torres da Costa, um tema sobre o qual a OM terá de refletir. Para os orgãos nacionais a adesão terá rondado os 30%, enquanto no Norte terá chegado aos 40%, provavelmente devido à polarização resultante da existência de duas listas .
"Temos de tentar perceber porque os médicos andam distanciados da sua casa, por que razão não se envolvem e não opinam", afimou Torres da Costa ao JN.