Da lista de 11 ministros que saíram do Governo, três decidiram voltar à vida académica, como João Leão, que está debaixo de fogo por regressar ao ISCTE, agora como vice-reitor, após ter sido aprovada a verba de financiamento do novo centro de investigação quando era ministro das Finanças. Foi uma saída polémica, como outras em anteriores governos.
Corpo do artigo
O ex-ministro das Finanças também é um dos quatro candidatos ao cargo de diretor executivo do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), instituição financeira que assegura a estabilidade da zona euro. Foi a figura escolhida pelo Governo português para suceder a Klaus Regling, cujo mandato termina no próximo dia 7 de outubro.
Manuel Heitor e Ricardo Serrão Santos também optam pelas respetivas instituições de Ensino Superior. O primeiro é do Instituto Superior Técnico (Universidade de Lisboa) e o segundo é investigador principal na Universidade dos Açores, onde foi diretor do Departamento de Oceanografia e Pescas entre 1997 e 2011.
Pedro Siza Vieira, ministro da Economia que foi substituído por António Costa Silva, prometeu tirar umas férias sem revelar se iria retomar a advocacia. Já Francisca Van Dunem, que acumulou com a Justiça a tutela da Administração Interna após a saída de Eduardo Cabrita, embora tenha pedido a Costa para deixar o Executivo, meteu os papéis para uma reforma de 6750 euros como juíza conselheira, apesar de nunca ter exercido a função no Supremo Tribunal de Justiça. A aposentação também é uma opção para o economista Nelson de Souza, ex-ministro do Planeamento.
Aquando da tomada de posse do novo Parlamento, confirmou-se que cinco dos onze ex-ministros optaram por entrar, com destaque para Augusto Santos Silva, ex-ministro da Defesa que é a aposta de António Costa para presidir ao Parlamento.
A bancada acolheu Alexandra Leitão, que era ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública. Recusou o convite do primeiro-ministro para liderar a bancada e não escondeu o descontentamento por sair do Governo. Tiago Brandão Rodrigues, ex-ministro da Educação, também quis assumir o cargo de deputado, tal como Matos Fernandes, do Ambiente, e Graça Fonseca, da Cultura. Porém, a ex-ministra pediu de imediato a suspensão temporária, que tem um máximo de 90 dias. Além disso, estes deputados poderão não cumprir o mandato até ao fim e preferir o regresso às suas carreiras.
Regras
Incompabilidade limitada às empresas privadas
A polémica do ISCTE e dos mais de cinco milhões transferidos pelas Finanças do Orçamento para aquele instituto abriu, de novo, a discussão sobre o regime de incompatibilidades dos titulares de cargos políticos. O PSD foi um dos que questionou a limitação às empresas privadas que prossigam atividades no setor por eles diretamente tutelado, com um período de nojo de três anos. Ficam de fora as empresas públicas e o "regresso à empresa ou atividade exercida à data da investidura no cargo".
Saídas polémicas de ex-governantes
Ferreira do Amaral
Ministro das Obras Públicas no Governo de Cavaco Silva
Lusoponte
Quando esteve no Governo de Cavaco Silva, negociou o acordo relativo à concessão da Ponte Vasco da Gama com a Lusoponte, de que viria a ser presidente. Durante o inquérito parlamentar, procurou defender a sua ida para a concessionária, dizendo que aceitou o convite "com à-vontade" porque tinham passado 12 anos.
Jorge Coelho
Ministro das Obras Públicas no Governo de Guterres
Mota-Engil
O ministro de António Guterres demitiu-se em 2001 do Ministério do Equipamento, após a queda da ponte de Entre-os-Rios, e foi para a presidência da Mota-Engil em 2008. Uma década depois, Seixas da Costa, ex-secretário de Estado do PS, entrou para a administração. Já o centrista Paulo Portas foi escolhido para consultor depois de deixar o Governo.
Maria Luís Albuquerque
Ministra das Finanças no Governo de Passos Coelho
Arrow Global
A ex-governante do último Governo social-democrata gerou polémica por ter sido contratada, em março de 2016, pelo grupo de gestão de crédito Arrow Global, empresa britânica que teve negócios com o Banif. Em comunicado, a empresa anunciou, na altura, que iria ser administradora não executiva e integrar o comité de auditoria e risco.
Mário Centeno
Ministro das Finanças no Governo de António Costa
Banco de Portugal
Motivou um aceso debate sobre o regime de incompatibilidades, mas foi em vão a tentativa para travar a sua passagem para o Banco de Portugal. Após quatro meses, foram publicadas novas regras para designação dos membros da administração do supervisor. Ficaram pelo caminho propostas para incluir governantes no período de nojo de três anos.