Documento que pretende lançar debate sobre novas respostas para idosos entregue ao Governo. Tecnologia pode ser usada para reforçar apoio domiciliário.
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A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) enviou ao Governo um documento com novas propostas de respostas seniores, que inclui alterações legislativas e de políticas públicas para que as instituições se consigam adaptar ao novo perfil dos idosos: pessoas mais frágeis, com doenças crónicas, dificuldades de mobilidade e demências. E que desejam ficar em casa enquanto for possível. Uma das propostas é passar a haver um "canal aberto" com os hospitais, que lhes garanta a continuidade nos tratamentos.
A "pandemia levantou a questão de os lares não estarem a corresponder àquilo que era suposto", algo que não surpreendeu as Misericórdias que já vinham "alertando" para a situação, explica ao JN Manuel de Lemos, presidente da UMP.
O problema da saúde é fulcral. Manuel Caldas de Almeida, vice-presidente da UMP, diz que é preciso "mudar radicalmente" a maneira como as pessoas idosas são seguidas nas várias instituições de saúde, já que são a maioria dos utentes que ali acorrem.
A ideia é que seja criado uma espécie de "canal aberto para a continuidade de tratamento, com pessoas responsáveis", evitando o atual estado de "desarticulação total". "A população idosa merecia ter médicos e enfermeiros específicos em cada turno, que fizessem a ponte com quem os segue cá fora", reforça Caldas Almeida.
A UMP propõe, ainda, que "cada centro de saúde tenha de fazer um contrato com os lares da sua zona, dizer se consegue ou não dar resposta. E, se não der, assumir-se que o lar tem direito de a organizar e ser remunerado por isso".
Adaptar estruturas e pessoas
O documento defende que os lares devem ser alterados a nível físico (adequando-se às novas necessidades dos idosos e fazendo a transição ambiental para reduzir custos de manutenção) e a nível de recursos humanos. "Precisamos de mais formação e também de maior rácio de enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e terapeutas porque temos pessoas mais frágeis", diz Manuel de Lemos
Também é preciso olhar para o apoio domiciliário para manter as pessoas em casa mais tempo, com "segurança". As novas tecnologias, que Misericórdias como a da Póvoa de Lanhoso já vão ensaiando, podem dar um importante contributo.
Para permitir muitas destas novas respostas, refere a UMP, é preciso proceder a pequenas alterações legislativas e ter maior articulação entre os ministérios da Segurança Social e da Saúde. O documento, que já foi apresentado ao presidente da República e à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, está "aberto a novos olhares e colaborações" e "não pode ser ignorado", acredita o presidente das Misericórdias.
Nem adiado, já que nesta altura "há uma oportunidade de financiamento porque coincidem três programas comunitários: o fim do Portugal 2020 que ainda tem verbas por gastar, o Plano de Recuperação e Resiliência e o programa de fundos comunitários que vai arrancar", que devem ser aproveitados para "assegurar respostas de qualidade aos idosos".
Exemplo
Como a tecnologia já ajuda a monitorizar
A Misericórdia da Póvoa de Lanhoso apostou há anos na inovação tecnológica para melhorar respostas aos utentes. A instituição recorre a uma plataforma para gerir tarefas e atividades nas várias valências, com ganhos na qualidade do serviço e poupança de tempo e recursos. As equipas do apoio domiciliário, por exemplo, possuem smartphones que lhes permitem lançar um alerta e pedir cuidados médicos se forem detetados problemas de saúde, ou reportar anomalias com as refeições e limpeza, conta o provedor Humberto Carneiro. Graças a um projeto-piloto com a NOS, foram também entregues a utentes dispositivos de monitorização que permitem medir a temperatura corporal e frequência cardíaca, entre outros parâmetros, o que "aumenta a segurança". Os tablets onde se insere a informação permitem, ainda, que os idosos que estão em casa comuniquem com familiares ou a instituição. São "áreas que não estão contratualizadas, mas que entendemos fundamentais. Este tipo de apoios tecnológicos pode ajudar a modificar o paradigma do apoio domiciliário", defende Humberto Carneiro.
Oportunidade
Aproveitar fundos
A UMP considera que existe uma "oportunidade de financiamento" para assegurar algumas alterações, porque "coincidem três programas comunitários: o fim do Portugal 2020 que ainda tem verbas por gastar, o Plano de Recuperação e Resiliência e o programa de fundos comunitários que vai arrancar".