A Missão Continente associou-se ao programa "Famílias Seguras - Cuidar de quem Cuida", financiando cerca de 2700 testes para o rastreio de cerca de 40 das famílias. Com o apoio institucional do Presidente da República, a iniciativa é promovida pelo Centro de Testes (CT) de Ciências e pela Faculdade de Ciências da ULisboa, em parceria com a Associação Nacional de Cuidadores Informais (ANCI), e vai permitir testar centenas de cuidadores informais à covid-19, durante quatro meses, recorrendo a testes de saliva que permitem maior abrangência geográfica e a baixos custos.
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O projeto "Famílias Seguras - Cuidar de quem Cuida" é um programa de vigilância epidemiológica, regular e gratuito para cuidadores informais, pessoas cuidadas e familiares em convivência direta. Atualmente, estão abrangidas 70 famílias de cuidadores informais no território continental português, um total de cerca de 220 pessoas e quatro mil testes a serem efetuados entre março e julho, podendo posteriormente alargar-se a mais famílias de todo o país.
Com uma abordagem inovadora, o rastreio será feito através de testes semanais em amostras de saliva, colhidas em casa pelos próprios participantes e enviadas para testagem no Centro de Testes de Ciências. Sendo um procedimento simples, minimamente invasivo e seguro, a colheita de saliva não requer um técnico de saúde especializado ou a deslocação a um centro de testagem, o que reduz não só o risco de transmissão, mas também os custos associados, permitindo testar regularmente um maior número de pessoas.
As amostras serão analisadas por testes moleculares PCR, de acordo com as normas da DGS e por sequenciação genómica para caracterização das variantes circulantes. Considerando que o material genético do vírus SARS-CoV-2 pode ser detetado com fiabilidade na saliva durante vários dias sem necessidade de refrigeração, a testagem por saliva tem várias vantagens em relação aos colhidos por zaragatoa.
O estatuto de cuidador informal é oficialmente reconhecido desde 2019 e, apesar da sua importância acrescida em contexto de pandemia, não tem previsto um plano de vigilância e contingência específicos, ao contrário do que acontece em escolas, lares, centros de saúde, unidades hospitalares e na Rede Nacional de Cuidados Continuados. Muitos destes cuidadores não fazem parte de grupos prioritários no plano de vacinação.
Segundo os dados da Eurocarers, há 1,1 milhões de Cuidadores Informais em Portugal, um número que terá aumentado durante a pandemia devido às limitações impostas às respostas sociais e ao acesso aos cuidados de saúde. As pessoas cuidadas (crianças, jovens adultos e idosos) pertencem a grupos de risco para a covid-19, surgindo neste cenário o dilema de precisarem do cuidador informal, ao mesmo tempo que seria preferível a ausência de contacto social.
"A missão da Faculdade é expandir o conhecimento e transferi-lo para a sociedade. Com esta iniciativa colocamos a nossa capacidade de inovação e colaboração ao serviço duma população vulnerável e que carece de muitos apoios", explicou Luís Carriço, diretor da Ciências ULisboa, acrescentando ainda que "este é um excelente exemplo de cooperação entre a academia, a sociedade civil, empresas e instituições".
Sílvia Artilheiro Alves, presidente da ANCI, acredita que "a inclusão dos cuidadores informais neste projeto trará benefícios aos próprios cuidadores e respetivos agregados familiares; mas também trará benefícios a todos os outros cuidadores, no sentido do reconhecimento, possibilitando uma sensação de confiança e segurança, tendo em conta a vigilância ativa do programa". Acrescenta ainda que "os resultados serão proveitosos para a comunidade científica e futuros programas governativos".
"Este é um projeto que muito nos orgulha", finalizou Ricardo Dias, coordenador do CT Ciências ULisboa, acrescentando que "temos o dever de cuidar de quem cuida. Ao fazê-lo damos também um sinal aos nossos alunos do papel vital que a Ciência pode ter na participação cívica e melhoria da sociedade".
O programa Famílias Seguras conta com o Alto Patrocínio de Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa.