Uma equipa de quatro médicos, dois portugueses e dois luso-ucranianos, parte na sexta-feira para a Ucrânia para formar 50 profissionais de saúde no transporte de doente crítico, ao abrigo de um protocolo assinado esta segunda-feira entre a Ordem dos Médicos e o Ministério da Saúde. Portugal já enviou para o país em guerra 10,5 milhões de embalagens de medicamentos, num total de 2,6 milhões de euros.
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A missão desenvolvida no âmbito do Gabinete de Apoio Humanitário da Ordem dos Médicos, criado há cerca de um ano, vai ao encontro das necessidades identificadas pelos ucranianos e conta com o apoio do Ministério da Saúde.
"Connosco não há fadiga da solidariedade", assegurou o ministro da Saúde, realçando o simbolismo da assinatura do protocolo no dia em que se assinala um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Manuel Pizarro destacou que Portugal continua de "braços abertos para continuar a cooperar" com a Ucrânia, um país "em sofrimento", alvo de "um ato de enorme brutalidade". E destacou que, desde o início da guerra, já foram enviados para a Ucrânia 10,5 milhões de embalagens ou ampolas de medicamentos. O apoio corresponde a um total de 2,6 milhões de euros, um valor abaixo dos preços comercializados graças à "generosidade" da indústria farmacêutica.
Salientando o apoio português à Ucrânia, o ministro adiantou que, em Portugal, estão atualmente seis crianças e um adulto ucranianos com doenças oncológicas, a ser tratados no Serviço Nacional de Saúde.
Formação na faculdade de Medicina de Ternopil
A equipa de médicos parte na sexta-feira para a Polónia e depois viajará de autocarro para Ternopil - cidade a cerca de 420 quilómetros de Kiev - que não têm estado sob ataque russo. A formação será feita no centro de simulação da Faculdade de Medicina de Ternopil, uma das mais conceituadas do país.
Serão três cursos de transporte de doente crítico ministrados a médicos, enfermeiros e técnicos de emergência com recurso à simulação biomédica, explicou Vítor Almeida, coordenador da missão e presidente do colégio da competência em Emergência Médica da Ordem dos Médicos.
Além de Vítor Almeida, que é anestesista, a missão contará com a participação um pediatra do Hospital D. Estefânia, em Lisboa, com experiência em transporte de doente crítico pediátrico. Dos quatro elementos, dois tem origem ucraniana e falam a língua, o que foi considerado determinante para facilitar a comunicação.
"Os combates travam-se na linha de contacto e os hospitais dessas zonas têm de tratar desses feridos, mas também têm de responder ao dia a dia, aos enfartes, à fratura da anca, daí a necessidade de transferir doentes críticos em segurança, com equipas devidamente formadas", explicou Vítor Almeida.
"Risco de voar num helicóptero do INEM é superior"
O médico anestesista do Centro Hospitalar Tondela-Viseu, que faz VMER no INEM, desmistifica os riscos da viagem. "É uma missão tranquila de formação de equipas, não vamos para a zona de combate. O risco de voar num helicóptero do INEM aqui é superior ao de ter um acidente lá", afirmou Vítor Almeida, garantindo que há médicos portugueses em missões mais arriscadas, no Congo, no Iraque, no Iémen, no Chile ou na Turquia.
No final da missão, que durará entre 12 e 17 dias, parte da equipa fará uma avaliação das necessidades do país, que depois serão transmitidas ao ministro da Saúde.
Com uma visão mais cética sobre os riscos da missão, o bastonário da Ordem dos Médicos esclareceu que a viagem será oferecida pela TAP, em articulação com o Ministério das Infraestruturas, a estadia dos médicos será na faculdade de Medicina e que a Ordem assumirá o transporte de autocarro e outras despesas necessárias.
Miguel Guimarães salientou ainda que "o protocolo é para esta missão, mas pode ser estendido a outras missões", nomeadamente em África.