A Casa da Aldeia guarda mais de 300 anos de histórias da família Ribeiro. Mais do que uma viagem pelo tempo, aquele espaço em Vila Nova de Gaia é eterniza a antiga paixão de Bernardino pelo transporte ferroviário, que o fez construir uma linha própria no seu quintal onde não faltam pontes e túneis.
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Quem passa pelo número 776 da Rua da Aldeia em Valadares, Vila Nova de Gaia, não imagina as histórias que estão escondidas para lá do portão verde. Aos 91 anos, Bernardino Ribeiro mantém viva a tradição da Casa da Aldeia, que pertence à família desde 1711.
O som da campainha e as bandeiras sinaléticas que Bernardino segura dão início à viagem pensada ao pormenor. O primeiro passo é adquirir um bilhete, validado antes do embarque. O percurso tem três pontes (Tanque, Poça e Portita) e dois túneis, Penedo e da Vinha, com 17 e 12 metros. Só o tamanho reduzido da carruagem distingue esta linha de uma verdadeira estação ferroviária, porque à volta há apeadeiros, vestíbulos, o bufete e até o despacho das bagagens.
Foi assim que, em 2011, nasceu no quintal de casa uma linha de comboio com 530 metros, construída pelo próprio. "Tudo começou quando era muito novo e ia com os meus pais à casa de uns amigos na Granja. Como era junto à linha dos comboios, passava o tempo a observar", conta. "Vi isto lá fora e vim para Portugal com a ideia de fazer uma coisa mais pequena, só que, depois de começar, não se para", acrescenta.
Há postos de gasolina, garagens, pontes, linha de alta tensão e até o teleférico
O fascínio pelos comboios começou muito antes de imaginar que um dia teria uma linha ferroviária dentro da própria casa. Há cerca de 40 anos que a placa "cantinho dos comboios" dá as boas- vindas a uma das salas com maquetes de miniaturas ferroviárias que construiu e eletrificou. Já perdeu a conta ao número de peças que dão vida à miniestação de comboios.
Os pormenores incluem postos de gasolina, garagens, pontes, uma placa giratória, linha de alta tensão e até o teleférico. Bernardino foi adquirindo as peças ao longo do tempo, "nos comboios reais, sucateiras, feiras, ou onde pudesse". E assim foi transformando a quinta numa exposição permanente da história dos caminhos de ferro. Não cobra bilhete pelas visitas e quem quiser pode contribuir com um donativo para a manutenção do circuito.
Sempre gostei de fazer brincadeiras desde miúdo e por isso juntei isto tudo
Mas nem só os comboios dão vida à Casa da Aldeia. As alfaias agrícolas, os utensílios do leite, do mel, do tratamento do milho e do linho preservam as memórias de quando a família Ribeiro se dedicava à lavoura, profissão que Bernardino herdou do pai a partir de 1960. Mas não é tudo. Umas escadas íngremes levam o público a uma sala de brinquedos onde construiu a miniatura que batizou como "aeroporto Casa da Aldeia de Valadares".
As quatro paredes do compartimento também guardam os berços dele próprio, da mulher e de uma das filhas. As vitrinas espalhadas pela sala exibem ainda uma exposição de bonecas oriundas de vários cantos do Mundo. "Sempre gostei de fazer brincadeiras desde miúdo e por isso juntei isto tudo", admite. E, talvez por este motivo, gosta de se apresentar como um "ajuntador" e não um "colecionador".