Dois meses depois de ter tomado posse como sucessor de Rui Rio, os sociais-democratas acreditam que Luís Montenegro está a conseguir unificar o partido e a marcar a agenda política do país. Especialistas em Ciência Política até concordam com a pacificação interna. Mas consideram que falta ser visto pelos portugueses como um possível futuro primeiro-ministro.
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"Aquilo que foi uma promessa desta liderança está a ser absolutamente cumprido", considera o secretário-geral do PSD, Hugo Soares, referindo-se à reaproximação com o eleitorado.
Luís Montenegro passou os dois primeiros meses de liderança do PSD a "varrer" o país, marcando presença em todas as feiras e festividades. "Tem sido feita uma política de muita proximidade com as pessoas, o que deve ser feito: reconciliarmo-nos com os portugueses", sublinha.
O novo líder do PSD foi também ao Chão da Lagoa e fez regressar o Pontal ao Calçadão de Quarteira, onde lançou um programa de emergência social antes de o Governo avançar com qualquer medida e contou com o apoio do antigo líder Pedro Passos Coelho. Foi firme em questões como a do novo aeroporto de Lisboa e no caso Endesa. E, ao visitar Pedrógão Grande no primeiro dia como líder do PSD, antecipou-se aos problemas no combate aos incêndios.
"Temos marcado a agenda política nacional e nota-se que há um maior apetite da comunicação social em saber a posição do PSD sobre determinados temas", crê ainda Hugo Soares, exemplificando com o imposto sobre ganhos inesperados.
Mudar comunicação
José Adelino Maltez até concorda com a parte da pacificação interna e com o facto de Montenegro estar a protagonizar uma oposição mais acutilante. Mas diz: "Ainda há um trabalho que não está feito para as pessoas o verem como possível primeiro-ministro".
"Disse que o objetivo era repor a máquina laranja. Isso é evidente que ocorreu e é evidente que houve um refazer de laços internos. Só que o problema é que ele quer ser primeiro-ministro. E não se vê nenhum crescimento da sociedade civil de apoio ao PSD", refere o investigador de Ciência Política, considerando que Montenegro precisa de "trazer algo de novo para criar uma ligação ao país".
Para o professor universitário, Montenegro deveria, por exemplo, "mudar a sua forma de comunicação", que tem assentado em discursos muito longos, e ser "mais assertivo". "Tem que ser implacável em determinados momentos", diz, considerando que não o foi na reação à demissão de Marta Temido e que já deveria ter apresentado um "governo-sombra".