O primeiro-ministro, Luís Montenegro, assegurou esta segunda-feira que será candidato nas eleições legislativas mesmo que seja constituído arguido no âmbito de um eventual processo relacionado com a empresa da sua família. "Avanço com certeza", respondeu à questão.
Corpo do artigo
Luís Montenegro disse também que "não faz sentido retirar a moção de confiança", cuja discussão está agendada para esta terça-feira, uma vez que "só vale a pena estar aqui com a legitimidade da vontade popular”, justificou.
Na entrevista concedida esta segunda-feira à noite à TVI/CNN Portugal, a partir da residência oficial em São Bento, o governante admitiu que "cometeu alguns erros" na gestão da polémica relacionada com a empresa da sua família Spinumviva, mas sublinhou que o Governo tem "condições para governar".
Montenegro disse também que tudo o que tem resulta do seu património. "E o meu património não tem um cêntimo que não resulte da minha força de trabalho e da minha família”, acrescentou.
O primeiro-ministro falou ainda do facto de se ter instalado no hotel Epic Sana, em Lisboa, enquanto havia obras na sua casa. “Achei que tinha direito a uma vida mais recatada. Fui eu que paguei. 250 euros por cada uma das noites que dormi no hotel, na base de um acordo”, afirmou, adiantando que já está a residir em São Bento "no único quarto sobrante da antiga residência."
Já sobre a gasolineira de Braga (Joaquim Barros Rodrigues & Filhos), o primeiro-ministro assegurou que a empresa contactou-lhe antes de haver Spinumviva e que essa foi uma das razões para criar a empresa familiar, desde logo porque o "trabalho extravasava" a advocacia e consistia em "perspetivar uma forma de ultrapassar constrangimentos" da gasolineira "através de novo modelo de negócio".
Refere também que “desde agosto de 2023, 99% de faturação” da Spinumviva constitui-se através dos cinco clientes regulares identificados no comunicado da empresa familiar, que inclui a Solverde e a Rádio Popular.
“Não faço, não fiz, não vou fazer fretes a ninguém. Não tirei nenhum benefício desta empresa”, insistiu, reiterando ter "convicção plena" de que não cometeu nenhum crime.
Montenegro revelou também que, em 1998, comprou ações do Banco Português do Atlântico, que se transformou em BCP. “Vendi com uma mais-valia razoável”, admitiu. Montenegro diz que “mais tarde” acabou por fazer uma “asneira” ao voltar a comprar ações do BCP e que foi um “investimento sofrido” porque esteve “muito tempo em perda”. As ações foram vendidas, segundo Montenegro, “na semana anterior a ter tomado posse como primeiro-ministro” com uma “mais-valia” de cerca de 200 mil euros.
A atual crise política teve início em fevereiro, quando se levantaram dúvidas em relação à empresa familiar de Luís Montenegro, Spinumviva, detida à altura pelos filhos e pela mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos, e que passou esta semana apenas para os filhos. Em causa estarão o cumprimento do regime de incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos públicos e políticos.
Depois de duas moções de censura ao Governo, de Chega e PCP, ambas rejeitadas, e do anúncio do PS de que iria apresentar uma comissão de inquérito, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou a 5 de março a apresentação de uma moção de confiança, que vai ser debatida amanhã no Parlamento. O eventual chumbo da moção de confiança, já prometido, levará o país a eleições antecipadas, possivelmente em maio.