Montenegro critica ataques israelitas e decisão "injustificada" de hostilizar Guterres
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, criticou, esta quarta-feira, os ataques "inaceitáveis" de Israel contra a ONU no Líbano, bem como a decisão "injustificada", tomada pelos israelitas, de declararem António Guerres "persona non grata". A Esquerda quis saber quando irá Portugal reconhecer o Estado da Palestina.
Corpo do artigo
No debate preparatório do Conselho Europeu, que ocorrerá esta quinta e sexta-feira, Montenegro começou por condenar "veementemente" o "agravamento das hostilidades" no Líbano e o "ataque militar do Irão contra Israel", considerando-os "muito preocupantes". O chefe do Governo salientou que, neste momento, é imprevisível "até que ponto" a situação do Médio Oriente, bem como a da Ucrânia, pode "condicionar" a União Europeia.
Montenegro classificou também como "inaceitáveis" os incidentes que provocaram "o ferimento de Capacetes Azuis nas missões das Nações Unidas no Líbano", fruto de um ataque israelita. "Condenamos igualmente o uso excessivo da força por parte de Israel em Gaza, a expansão dos colonatos na Cisjordânia, bem como a posição injustificada do Governo israelita face ao secretário-geral das Nações Unidas, considerando-o persona non grata", acrescentou.
O chefe do Executivo considerou ainda "urgente" travar a "escalada de tensões e a banalização da violência" no Médio Oriente, preconizando um cessar-fogo "imediato e permanente". Afirmou que essa é a condição para melhorar a distribuição da ajuda humanitária, a libertação de reféns e "o apoio à Autoridade Palestiniana para a solução de dois Estados" - como, vincou, Portugal sempre defendeu.
À Esquerda, todos os partidos exortaram o Governo a ir mais longe, desde logo reconhecendo o Estado da Palestina - em linha com o que países como Espanha, Irlanda ou Eslovénia já fizeram. BE e PCP pediram ainda que Portugal exija o fim do acordo de associação entre a União Europeia e Israel. Chega e CDS manifestaram uma posição contrária, com o partido de André Ventura a dizer que Israel se "sacrifica" pelo Ocidente e a classificar como "ignomínia" os pedidos de embargos de armas feitos por França.
Escolha de Maria Luís Albuquerque criticada
João Paulo Rebelo, do PS, quis saber "quando é que Portugal vai reconhecer o Estado da Palestina". "Ninguém compreende que se preconize a solução de dois Estados mas que apenas reconheçamos um Estado", frisou.
Falando em "crise da humanidade", o socialista insurgiu-se contra a "hostilidade" de Israel contra António Guterres, referindo que a decisão de declarar o líder da ONU como "persona não grata" se junta ao rol de outras posições "absolutamente inacreditáveis". Disse ainda recear que o facto de a relatora especial da ONU para os Territórios Palestinianos Ocupados, Francesca Albanese, não ter sido recebida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros na sua recente visita a Portugal seja um sinal de que o Executivo "começa a claudicar" no apoio à ONU.
Luís Montenegro respondeu que a forma "veemente" como o Governo é atacado "pela extrema-direita e pela extrema-esquerda" prova que escolheu uma posição de "equilíbrio" no que toda ao Médio Oriente. Face aos pedidos de reconhecimento do Estado da Palestina, disse estar a seguir "a linha dos governos anteriores".
A indicação de Maria Luís Albuquerque para comissária europeia foi outro dos temas abordados, sobretudo com críticas vindas da Esquerda. Mariana Mortágua, do BE, lembrou que a então ministra das Finanças "jurou que o BES não teria impacto nas contas públicas portuguesas enquanto assinava um cheque de 3,9 mil milhões de euros dos contribuintes". Montenegro criticou a "falta de fair play democrático" da bloquista, enaltecendo Albuquerque por ter ficado com a pasta "crucial" dos serviços financeiros.