
Luís Montenegro muito próximo de Volodymyr Zelensky
Foto: Manuel de Almeida/Lusa
Primeiro-ministro prometeu reforçar apoios a Kiev em vários setores. Zelensky agradeceu pelo apoio contínuo de Portugal.
"A viagem foi boa!" As primeiras palavras de Luís Montenegro ao início da manhã de ontem, ainda na estação central de Kiev, depois de 10 horas de viagem de comboio, poderiam ter sido repetidas a meio da tarde, quando, na hora do adeus, junto à entrada central da Catedral de Santa Sofia, fazia "o balanço de uma visita muito preenchida, construtiva e positiva". "Nós estamos num nível de cooperação já muito intenso, mas que, do meu ponto de vista, teve aqui um ponto de viragem", disse o primeiro-ministro português, apontando a um aprofundamento das relações com a Ucrânia, "para lá da guerra".
À chegada, Montenegro tinha prometido levar "afeto à Ucrânia", mas acabou por regressar com um fórum económico agendado para o próximo ano e a promessa de cooperação no desenvolvimento de drones subaquáticos. "Portugal e a Ucrânia têm, ao nível dos veículos não tripulados, um conhecimento que é hoje a vanguarda do Mundo."
Tecnologia e inovação
O objetivo é produzir em Portugal "drones com tecnologia e conhecimento científico ucraniano", mas também levar para a Ucrânia "experiência, conhecimento cientifico e capacidade produtiva". "Estamos na linha da frente e, por isso, temos muito interesse em poder trocar experiências e unir esforços para que o nosso potencial seja ainda maior", resumiu o líder do Governo português.
Mas não é só nas indústrias da guerra que os dois países prometem estreitar relações. O chefe do Governo português prometeu continuar a apoiar os alunos ucranianos nas escolas e universidades portuguesas. E lembrou o contributo luso para o sistema educativo ucraniano, em concreto "o apoio ao projeto Superheroes Schools", uma iniciativa através da qual Portugal já financiou a reconstrução de duas escolas ucranianas, nas cidades de Chernihiv e Cherkasy. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, desfez-se em agradecimentos pela ajuda na reconstrução das infraestruturas escolares e pelo "tratamento caloroso" que Portugal reserva aos ucranianos.

Foto: Sergey Dolzhenko/EPA
Área energética
Menos avançada está a cooperação no setor energético. "Temos sensibilizado as empresas portuguesas para cooperarem diretamente com as autoridades e empresas ucranianas. Sabemos que isso é uma prioridade e é uma área na qual Portugal tem muito conhecimento científico e uma grande capacidade", confessou o primeiro-ministro em resposta aos jornalistas ucranianos.
Luís Montenegro foi o primeiro líder europeu a visitar Kiev depois do Conselho Europeu, que aprovou um empréstimo "histórico" de 90 mil milhões de euros à reconstrução do país. Inscrita na Constituição ucraniana, a integração europeia não podia, também por isso, ficar de fora. O primeiro-ministro português prometeu todo o apoio institucional e administrativo, mas deixou o aviso: Kiev tem de acelerar as reformas "legislativas e administrativas necessárias para cumprir os critérios de adesão e acelerar o processo". "É um dos nossos", defendeu o chefe de Governo. É 2027 (a data prevista para entrada de Kiev na União) uma meta realista? O português não se compromete: "É desejável."
Na conferência de imprensa conjunta, o primeiro-ministro português ouviu do líder ucraniano palavras de gratidão "pelo apoio continuo à Ucrânia e por Portugal escolher uma Europa democrática e forte, uma Europa que deve continuar livre das loucuras de qualquer ditador". A questão, acrescentou Zelensky, "é se a Europa é capaz de se salvar a si própria".
"Nada obsta" a que Portugal envie tropas
Durante o raide de Luís Montenegro a Kiev, as sirenes não se ouviram, mas a guerra e a paz, ou as tentativas para a paz, continuaram a dominar os discursos. "É preciso ter esperança e eu disse ao presidente Zelensky, quando me despedi dele, que está mais perto hoje do que estava ontem. E ontem já estava mais perto do que estava há um mês. E há um mês estava mais perto do que estava há um ano", disse o líder português.
Quando os ataques cessarem, também os soldados portugueses podem começar a entrar na Ucrânia. "Nada obsta", sustentou o primeiro-ministro, reafirmando que não haverá tropas portuguesas em solo ucraniano enquanto a guerra durar. "Ao dia de hoje, a nossa participação não envolve nenhum tipo de empenhamento terrestre", ressalvou, admitindo, no entanto, participação em missões de paz ou de dissuasão e segurança, no futuro.
No púlpito à esquerda, Volodymyr ouvia atentamente a tradução e concordava "com Luís". "A Coligação da Boa Vontade só vai entrar em ação depois do cessar-fogo ou quando esta guerra acabar. Por isso, penso que é um pouco prematuro falar nesses cenários", completou o ucraniano.
Num sábado cinzento, que nem as decorações de Natal conseguiam disfarçar, as sirenes da comitiva portuguesa romperam o sossego de uma Kiev quase deserta. De palácio em palácio, em menos de nove horas, a comitiva liderada por Luís Montenegro reuniu-se com com a homológa ucraniana, o presidente do Parlamento e, num "encontro mais substancial, com o presidente Volodymyr Zelensky".
Com o chefe de Estado ucrâniano, o português partilhou ainda o almoço, depois de terem estado a sós durante quase uma hora e meia. No final, os afetos, as promessas e as declarações calorosas podem ter ajudado a esconder o frio do inverno em Kiev.
Destaques
Segurança
As medidas de segurança foram, desta vez, mais apertadas do que outras visitas de altos responsáveis portugueses em território ucraniano.
Eleições
Zelensky disse ontem que não cabe ao presidente russo, Vladimir Putin, tomar decisões sobre eleições na Ucrânia, depois de o líder do Kremlin ter sugerido uma trégua durante a votação.
