O líder do PSD está a ser pressionado internamente para começar a apresentar resultados. A Luís Montenegro é exigido que o partido comece a ser visto como uma alternativa e "descole" nas sondagens, avisando-se que 2023 vai ser um ano "decisivo" para o PSD e para a sua continuidade. As europeias serão a verdadeira prova de fogo. "Não basta ganhar. É preciso uma vitória clara", dizem vários críticos internos.
Corpo do artigo
Acabou o "estado de graça" de Luís Montenegro, sete meses após ter tomado as rédeas do PSD. "A situação do partido está a ficar preocupante", considera um crítico interno do líder dos sociais-democratas.
Em causa, o facto de se estar a acentuar "a degradação do Governo" sem que o PSD colha frutos. "Incompreensivelmente, a tendência de degradação acentuada do apoio ao Governo não tem sido acompanhada de uma subida do PSD nas sondagens", constata.
Os críticos internos de Montenegro até lhe dão o mérito de ter conseguido unir o partido e criar um novo entusiasmo na família social-democrata. Mas falta cativar a sociedade portuguesa, ou seja, que os eleitores o vejam como uma alternativa credível a António Costa. "O PSD não está a deslocar nas sondagens", lamenta um conselheiro nacional, admitindo que se trata de um motivo de preocupação.
"Está a fazer o que prometeu quando foi eleito. Primeiro, mobilizou o partido internamente. Agora, reuniu o Conselho Estratégico Nacional (CEN) para começar a preparar o programa de Governo e começar a apresentar-se como uma alternativa a nível nacional", contrapõe um dirigente próximo do líder dos sociais-democratas, desvalorizando críticas que são feitas no anonimato.
"Dois meses para reunir numa sala 20 pessoas?", aponta, porém, outro conselheiro nacional, considerando que o CEN foi reunido em cima do joelho "a reboque" do agudizar da crise no Governo.
Para os críticos internos, o partido não está a conseguir apresentar-se como alternativa ao PS devido "a vários erros cometidos" pela liderança, depois do debate do Orçamento do Estado para 2023. Em particular, a revisão constitucional "apresentada na 25ª hora", a forma "atabalhoada" com que foi apresentada a proposta de referendo à eutanásia, "quase que se tentando ganhar na secretaria", e a abstenção à moção de censura ao Governo. De igual forma, considera-se que Montenegro tem errado ao colocar os vice-presidentes Paulo Rangel e Miguel Pinto Luz a reagir a polémicas que envolvem o Governo. "Quando está em causa o primeiro-ministro, tem que ser o líder da oposição a fazer ouvir a sua voz", defendem.
"Mais importante do que exercícios espúrios e distantes dos cidadãos, o PSD tem de ser capaz de articular uma mensagem que resolva o problema do empobrecimento do país, que defenda uma reforma fiscal que liberte as empresas e a classe média da asfixia em que se encontram e que construa condições de afirmação dos jovens em Portugal", apontou o ex-líder da JSD e ex-deputado Pedro Rodrigues, num recente artigo de opinião, onde admite que o partido "se encontra num momento crítico da sua história".
"2023 vai ser um ano decisivo e crucial para o PSD e para a liderança de Luís Montenegro", concorda um ex-apoiante de Rui Rio, à semelhança do que defendeu o ex-presidente do partido, Luís Marques Mendes, no seu comentário semanal na Sic, em que admitiu 2023 como "muito decisivo para o PSD", por "ainda não ser visto como alternativa pelo país". "É bom que acelere a construção de uma alternativa", recomendou Marques Mendes, concordando, assim, com as vozes críticas que se começam a levantar no partido.
"Mas Luís Montenegro tem dado uma ideia de uma certa desorientação e falta de rumo", constata um ex-dirigente do PSD, acusando o atual líder de ter criticado o seu antecessor mas estar a fazer exatamente o mesmo. "Até pode estar a ter uma linguagem mais dura. Mas, depois, na prática, continua a colaborar com o Governo. A revisão constitucional vai ser à imagem do PS, ajudou o Governo a sair da embrulhada com o novo aeroporto e, na hora de censurar, absteve-se, recorrendo ao discurso de que seria irresponsável atirar o país para novas eleições", exemplificou um conselheiro nacional.
Os críticos internos prometem, assim, estar atentos, durante 2023, ao evoluir das sondagens, avisando que chegou a altura de Luís Montenegro colocar o partido acima dos resultados da liderança de Rui Rio. Mais. Internamente, já se fala numa fasquia para as eleições europeias, como condição para a manutenção de Montenegro na liderança. "Não basta ganhar as europeias. É preciso ter uma vitória clara", reclamam vários críticos internos, duvidando que as conversações com o autarca portuense Rui Moreira sejam a melhor estratégia para o PSD.