O líder do PSD pediu, este sábado, um país que “olhe para as pessoas que trabalham e pagam muitos impostos”. As palavras de Luís Montenegro surgiram num discurso improvisado, no mercado municipal de Amarante, em que ignorou o repto da esquerda para esclarecer que defende cortes de apoios como o subsídio de desemprego.
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Num dia que começou com uma visita ao mercado de Amarante, Luís Montenegro recebeu mais uma ajuda do antigo presidente da República, Cavaco Silva, o apoio do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e uma “ajuda” especial, a da ex-empregada da família que, aos 102 anos, prometeu ir votar pela primeira vez só para retribuir a forma como foi tratada.
Num artigo de opinião, Cavaco Silva acusou a “máquina de propaganda do PS” de ser “capaz de tudo fazer para enganar os portugueses”. E alertou para os perigos dos “extremismos”.
Montenegro chegou a Amarante a ignorar essas palavras. O candidato, que quase se cruzou com o cabeça de lista do RIR pelo Porto, Tino de Rans, preferiu falar com os feirantes. “Eu daqui é que vou levar os votos, ele não vai levar nada”, garantia Vitorino Silva, segurando numa cesta da mãe onde guardava pedras retiradas da avenida dos Aliados, no Porto e enquanto se ouvia a sua música da campanha que pede “Vamos votar no calceteiro”.
Tino acabou por não ver sequer Montenegro. Saiu antes que chegasse o candidato da AD, que foi logo recebido por Paulo Vasconcelos, que tinha uma carta para lhe entregar. Era de Rosa, que atualmente tem 102 anos e foi empregada doméstica dos avós e dos pais do líder do PSD.
“Veio de Resende para Amarante com 10 anos para ser empregada da família de Montenegro. E, quando chegou, foi tratada quase como uma filha. Nunca votou mas agora faz questão de ir às urnas para agradecer a forma como foi tratada pela família. É isso que diz na carta, que não esquece e quer agradecer” contou, ao JN, Paulo Vasconcelos.
Luís Montenegro também não fez qualquer comentário ao apoio do dia: do autarca independente Rui Moreira, que iria estar ao seu lado num comício, à hora do almoço, na Trofa. Preferiu fazer um discurso improvisado para feirantes e clientes do mercado municipal de Amarante, a quem agradeceu o apoio. “Quero falar para os reformados, que continuem uma vida em comunidade, que não lhes falte o essencial, como alimentação, farmácia, uma vida feliz ao lado dos seus netos”, disse, dirigindo-se também aos jovens: “Para nos ajudarem a sermos um país mais forte, para que os pais e avós não fiquem com aquele aperto do coração”.
Garantindo acreditar que a “onda é grande” e com “uma grande dinâmica”, Montenegro deixou um compromisso: “Estarei sempre ao pé das pessoas para construir um país que lhes permitam alcançar os seus sonhos, um país que olhe para estas pessoas que trabalham e pagam muitos impostos”.
O líder do PSD e candidato da AD não esclareceu se estaria a deixar esse compromisso no mesmo tom com que, quinta-feira, afirmou que “não aceita um país em que muita gente que trabalha tem menos dinheiro do que muita gente que não trabalha”. Palavras que têm sido interpretadas pela esquerda, em particular pelo rival socialista, Pedro Nuno Santos, como de defesa de cortes a prestações sociais como o subsídio de desemprego e que já levaram o candidato do PS a fazer-lhe um repto para esclarecer.