Luís Montenegro não aproveitou o domingo para a ressaca dos resultados nas eleições diretas do PSD e avançou para o terreno a tentar convencer os abstencionistas.
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Mostrando que arrancou com a campanha da segunda volta, foi para esses nove mil militantes indecisos que o ex-líder parlamentar laranja fez um apelo. Do outro lado da barricada, Rui Rio apostou no descanso e só esta segunda-feira volta à estrada. Quem o apoia vislumbra uma vitória no próximo sábado. Já Pinto Luz começou a cumprir o que tinha prometido: manteve o silêncio e não vai apoiar nenhum candidato.
Num vídeo com cerca de dois minutos, Luís Montenegro apostou, no domingo, em contrariar a interpretação de Rui Rio que, na noite eleitoral, disse que esteve a 0,56% [o equivalente a 340 votos] de ganhar à primeira volta. Para o segundo classificado, a maioria escolheu a "mudança" e não a "continuidade" da atual liderança; soma os votos de Pinto e diz que juntos tiveram mais 466 votos do que Rui Rio.
Dirigindo-se "aos 9 mil companheiros que por alguma razão não participaram no ato eleitoral", Montenegro defendeu que "é falsa a ideia de que faltam 300, 400 ou 500 votos a um dos candidatos para sair vencedor". "Numa segunda volta partimos do zero e sairá vencedor aquele candidato que obtiver metade dos votos mais um", refere, admitindo estar "muito confiante" que sairá vencedor a 18 de janeiro contra "o conformismo e o divisionismo".
Para o ex-líder parlamentar, que ficou em segundo lugar com 41,54%, contra os 49,26% de Rio, "no próximo sábado é a oportunidade de mudar". "É a última oportunidade de devolver ao PSD a chama e a alma para podermos reconquistar a confiança maioritária dos portugueses", concluiu.
"Isto está ganho"
Mas os resultados de Montenegro mostram que há muito trabalho a fazer mesmo em terreno amigo, onde as concelhias e as distritais são controladas por apoiantes. É o caso da concelhia de Braga, liderada por Hugo Soares, onde só teve mais 59 votos do que Rio, ou da Distrital de Viseu, liderada por Pedro Alves, seu diretor de campanha, onde teve uma vantagem de 84 votos.
O JN apurou que, do lado de Rio, só a partir desta segunda-feira se irá delinear a estratégia para a segunda volta, com uma reunião do núcleo duro da candidatura.
"Isto está ganho. Era preciso que todos os que votaram em Pinto Luz votassem em Montenegro. Ora, não só muitos dos apoiantes de Pinto Luz já disseram que não vão votar agora, como Montenegro causa muitos anticorpos nesse grupo", disse fonte ligada a Rio, aludindo a exemplos como o de José Eduardo Martins.
Para este rioísta, "há um desespero do outro lado". "Quando o diretor de campanha [Pedro Alves] não consegue convencer em Viseu e ter uma lista para o Congresso derrotada ou quando o novo apoiante de Montenegro, Bruno Vitorino [líder da Distrital de Setúbal], não conseguiu impedir os militantes das concelhias do Montijo e Almada de darem a vitória a Rio, está explicada a necessidade de não descansarem no dia seguinte às eleições".
Vitorino reorienta voto
Das duas distritais em que Pinto Luz ganhou, Setúbal foi a primeira a manifestar apoio a Montenegro.
"Se apoiámos Pinto Luz pela renovação e pelo projeto inovador para o partido e o país, só poderíamos apoiar agora Montenegro e não alguém apostado na continuidade e na divisão do PSD", disse, ao JN, Bruno Vitorino, líder do PSD/Setúbal, apontando que Rio "teve menos sete mil votos do que em 2018" mas "continua a fazer de grandes derrotas vitórias".
Pedro Alves, diretor de campanha de Montenegro, mostrou-se "confiante" quanto à transição de votos. "Houve uma a sintonia entre Miguel Pinto Luz e Luís Montenegro na necessidade da mudança no partido", aludiu.
Pormenores
Porto deu sorte a Rio
Rio teve na Distrital do Porto um dos seus melhores resultados: conquistou 59,7% dos votos, ficando com mais 1456 votos do que Montenegro. Também em Vila Real, o atual líder do PSD teve quase o dobro dos votos: 616 contra 312 e larga vantagem face ao ex-líder parlamentar na Guarda (mais 305 votos) e em Viana do Castelo (mais 265).
Menos que em 2018
Apesar da vitória com 15 460 votos, Rui Rio perdeu votos face a 2018 quando ganhou a Santana Lopes: na altura teve 22 728 votos (mais 7268 do que agora), numas eleições com mais 10 mil participantes.