O antigo ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, apresentou esta quarta-feira, em Lisboa, a candidatura à liderança do PSD. Sob o lema "Direito ao Futuro", comprometeu-se a "unir", "refundar" e "modernizar" o partido, reconhecendo que, se nada for feito, este corre o risco de se tornar uma força política de média dimensão.
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"Candidato-me à liderança do PSD pelo sentido de responsabilidade que 33 anos de militância exigem", afirmou Moreira da Silva. O antigo governante do Executivo de Passos Coelho, que estava desde 2016 na OCDE, procurou mostrar que nunca deixou de estar atento à realidade portuguesa: "Estive sempre presente", vincou.
O antigo governante realçou a sua "estima e amizade" por Luís Montenegro, o outro candidato à liderança. No entanto, embora sem o visar diretamente, procurou vincar as diferenças entre ambos: "Nunca deixei de me bater frontalmente por causas e ideias, mas nunca perdi um minuto que fosse na guerrilha e na conspiração. Não tenho, pois, contas a acertar nem posicionamentos equívocos a justificar. Conseguirei facilmente unir porque nunca andei a dividir", frisou.
Considerando que o mundo vive "o momento mais exigente dos últimos 70 anos" devido à pandemia e à guerra na Ucrânia, Moreira da Silva realçou as diferenças entre PSD e PS. No seu entender, os sociais-democratas distinguem-se "pela vocação reformista, pela valorização da iniciativa privada, pelo reconhecimento do mérito" e pelo nível de impostos que entendem ser "aceitável" cobrar. "Costa terá em mim um adversário enérgico", prometeu.
O candidato também rejeitou uma política de "nicho", apontando aos partidos à sua Direita. Aludindo ao Chega, disse não admitir, "em qualquer circunstância, dialogar e negociar com forças populistas e extremistas".
Moreira da Silva criticou, de forma implícita, a posição de Montenegro a este respeito, lembrando que este disse querer fazer do PSD "a casa comum dos não socialistas". "Comigo, não. Na casa do PSD não cabem racistas, xenófobos e populistas", contrapôs.
Para o antigo ministro, uma das razões que explicam a dispersão de votos à Direita é o facto de os eleitores desse lado do espetro político terem considerado indiferente votar no PSD ou no Chega, convictos de que poderia haver um entendimento pós-eleitoral entre ambos. Ao traçar uma "linha vermelha" para com o partido de André Ventura, Moreira da Silva espera atrair para o PSD todos os futuros votos dos portugueses que queiram um Governo de Direita.
Anos na Oposição podem ser "investimento"
Moreira da Silva defendeu mudanças de fundo no PSD, reconhecendo que, se nada for feito, "existe o risco" de este passar a ser uma força política de média dimensão. De modo a evitar esse desfecho, entende ter "chegado o momento de refundar o PSD na sua vertente programática".
Vincando que políticos como o norte-americano Bill Clinton ou os britânicos Tony Blair e David Cameron fizeram o mesmo em momentos difíceis da vida dos respetivos partidos, o candidato considerou que a implementação de "mudanças de grande amplitude" será a única forma de os sociais-democratas voltarem a ser alternativa de Governo.
"Não me custa pensar que estarei quatro anos a liderar a Oposição. Pelo contrário: esses quatro anos poderão ser o maior investimento que podemos fazer para, depois, estarmos mais de dez anos no Governo", afirmou, alertando que o partido não pode limitar-se a esperar que "o poder caia no colo".
Algumas das prioridades de Moreira da Silva serão o combate às alterações climáticas, a transição energética, a luta contra a corrupção, a melhoria das competências digitais dos cidadãos ou a promoção de uma fiscalidade "mais inteligente".
Nem "passista" nem "rioista"
Moreira da Silva considerou que não ser deputado não causará problemas à sua presidência, recordando que Marcelo Rebelo de Sousa e Pedro Passos Coelho também tiveram lideranças de sucesso mesmo não tendo lugar no Parlamento. Também anunciou que criará um "governo-sombra" inspirado no modelo inglês.
"Ficam os ministros e os Secretários de Estado do Governo socialista a saber que, a partir de agora, terão uma marcação direta por parte dos ministros-sombra e dos secretários de Estado sombra do PSD. E fica António Costa a saber que terá em mim um adversário enérgico. Não lhes daremos descanso", afirmou.
O antigo membro do Governo de Passos Coelho vincou o orgulho no seu percurso mas tentou evitar os rótulos tanto de "passista" como de "rioista, considerando-os "redutores". Mas, referindo-se ao facto de ser, por vezes, conotado tanto com Passos como com Rio, ironizou: "Pelos vistos, eu sou aquele que consegue unir".
A assistir à apresentação da candidatura estiveram apenas a mulher, um dos filhos e "um grande amigo" de Moreira da Silva, tendo saltado à vista a ausência de figuras de peso do PSD. O candidato afirmou que isso foi propositado, uma vez que não quis pedir apoios "antes de dizer ao que venho". Também deixou um alerta a quem eventualmente o queira apoiar de olho em futuros cargos: "Comigo, não estarão bem servidos".
O antigo governante anunciou ainda que apresentará a sua equipa "no devido tempo" e que será ele próprio a escrever a sua moção, uma vez que "as ideias não se subcontratam". As eleições do PSD estão marcadas para o dia 28 de maio.