Taxa aumentou, em 2022, para 2,6 óbitos por mil nados-vivos, num ano com mais 26 mortes. Pediatras defendem análise detalhada às causas.
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Depois de dois anos estabilizada, a taxa de mortalidade infantil subiu, no ano passado, para 2,6 óbitos por mil nados-vivos (contra 2,4). No total, registaram-se 217 mortes de crianças com menos de um ano de idade, mais 26 do que em 2021. Para os médicos ouvidos pelo JN, devem ser analisadas, em detalhe, as causas destas mortes.
Os dados foram ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, tendo por base a informação registada nas Conservatórias do Registo Civil até março de 2023. Dando conta de 217 óbitos infantis de mães residentes em Portugal no ano passado, fazendo a taxa subir para os 2,6/mil nados-vivos. Sendo que nos dois anteriores estabilizou nos 2,4/mil, depois da descida iniciada em 2019 e que se seguiu a uma subida, para os 3,3/mil, em 2018, levando a Direção-Geral da Saúde (DGS) a criar um grupo de trabalho para estudar aquelas variações. Em 2022, os nascimentos aumentaram para os 83.671 (+5,1%).
Ao JN, o presidente do Colégio da Especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos, Jorge Amil Dias, explica que "todos os dados têm flutuações para cima ou para baixo e não significa que corresponda a um agravamento da situação". Pelo que importa perceber a evolução da taxa nos próximos anos. E "acompanhar e analisar as causas", defende o pediatra.
Impacto da pandemia
A mesma análise, caso a caso, é defendida pelo diretor do Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN), que se mostrou surpreendido com os dados. Admitindo Caldas Afonso "alguma possível perturbação do tipo de assistência que foi prestada no período covid e no pós-covid e que possa ter tido influência".
"A minha realidade, a do CMIN [unidade que mais partos realiza no país], não reflete isso e surpreende-me", diz. Recordando todo o caminho "fantástico" percorrido por Portugal em matéria de mortalidade infantil, colocando-o num "patamar de referência mundial e do qual não queremos baixar", o também professor catedrático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar defende uma análise àqueles 217 óbitos.
"Apesar de um número pequeno, deve obrigar a analisar caso a caso o que aconteceu, porque cada morte a mais é um drama", vinca Caldas Afonso. Até para perceber "se há algum padrão para o inverter rapidamente". Quanto a possíveis explicações, não exclui que no período da pandemia e pós-pandemia "o nosso diferenciador - consultas, ecografias... -, possa ter tido alguma perturbação e possa ser ainda reflexo disso, não vejo outras razões". Tendo presente a "perturbação e alteração na assistência" gerada pela covid.
Em maio de 2019, depois de conhecido o aumento da taxa para 3,3/mil em 2018, a DGS esclarecia, em comunicado, que o "fenómeno das oscilações da taxa é multifatorial". Elencando, entre outros, o "aumento da idade materna à data do parto e consequente aumento da patologia subjacente" e o "recurso crescente a técnicas de Procriação Medicamente Assistida". Aumentando, assim, o "risco de morbi-mortalidade para a mãe e recém-nascido".
O JN pediu esclarecimentos à DGS, mas não obteve resposta em tempo útil.
Aumento das mortes maternas em investigação
Em maio do ano passado, a DGS nomeou uma comissão de acompanhamento da mortalidade materna. Conforme o JN noticiou, em 2020 a taxa de mortalidade materna chegou ao nível mais alto dos últimos 38 anos, nos 20,1 óbitos por 100 mil nascimentos.
Segundo foi possível apurar, aquela comissão terminou já as visitas às unidades hospitalares, onde recolheu informação sobre os casos - 17 mortes, em 2020. O relatório final não foi ainda tornado público. No Parlamento, o obstetra Diogo Ayres de Campos, que integra aquele grupo de trabalho, explicou que "muitas são mortes que aconteceram na gravidez, mas não por complicações da gravidez".