O número de mortes causadas pelo consumo excessivo de drogas (overdose) voltou a aumentar, em 2023, de acordo com um relatório que vai ser apresentado esta quarta-feira, na Assembleia da República. Ao todo, registaram-se 80 mortes, o que é o valor mais alto desde 2009.
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O Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD) publicou nesta quarta-feira os relatórios sobre a situação do país em matéria de drogas, toxicodependência e álcool, relativos ao ano de 2023. A divulgação acontece no dia em que o ICAD vai apresentar estes indicadores no Parlamento. O contexto é de diminuição global dos usos recentes de drogas e álcool, exceto nos consumos em excesso, que se agravaram de forma generalizada.
O número de overdoses foi de 80, contabiliza o ICAD, com base nos dados do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses: “Houve um aumento de overdoses face a 2022 (mais 16%), sendo os valores dos últimos três anos os mais altos desde 2009”.
Os sucessivos aumentos resultam sobretudo das overdoses por cocaína, que também não páram de aumentar. Em 2023, o consumo excessivo desta droga matou 52 pessoas (mais seis do que em 2022), confirmando-a como o estupefaciente mais mortal em Portugal pelo terceiro ano consecutivo, desde 2021. Representa 65% do total de overdoses.
Na tabela de 2023 seguem-se as 29 overdoses de metadona e igual número de mortes por opiáceos, onde se incluem heroína, morfina, codeína e tramadol. Houve ainda 19 pessoas que morreram devido ao consumo excessivo de canábis misturado com outras substâncias e dez por overdose de drogas sintéticas (sete casos com ecstasy e três com catinonas sintéticas).
Menos mortes nos jovens e mais em Lisboa
A idade média das pessoas que morreram por overdose em 2023 foi de 45 anos, num aumento de dois anos face a 2022. As mortes entre os jovens diminuíram, pois eram 32% do total e passaram a ser de 23%. Cerca de 80% dos casos eram do sexo masculino e em 91% das mortes foi detetada mais do que uma substância.
Do ponto de vista regional, foi em Lisboa e Vale do Tejo que se registaram mais overdoses (33), seguindo-se o Centro (16), o Norte (14), o Alentejo e o Algarve (ambos com sete) e a Madeira (três). Nos Açores não se registaram mortes por consumo excessivo de drogas.
O relatório do ICAD dá ainda conta de 307 mortes em que foi detetada a presença de estupefacientes em contexto de autópsia, ainda que a causa de morte fosse outra. Isto aconteceu em 86 acidentes (incluindo de trabalho e de viação), em 46 suicídios, em 14 homicídios, em 127 mortes por causa natural e em 34 de causa indeterminada. Trata-se de uma diminuição face às 367 de 2022.
Consumos de risco agravam-se
Nos restantes indicadores, realça o ICAD, “Portugal continua a surgir como um dos países europeus com menores prevalências de consumo recente de canábis, de cocaína e de ecstasy, as três substâncias ilícitas com maiores prevalências de consumo recente em Portugal”.
A grande diminuição aconteceu com o consumo recente e atual de canábis, embora os usos de risco moderado e elevado tenham aumentado na população, com particular incidência nos mais jovens, dos 15 aos 24 anos.
Em 2023 estiveram em tratamento 24.246 utentes com problemas relacionados com o uso de drogas no ambulatório da rede pública, o que se traduz num ligeiro aumento de 0,3%. O número de utentes internados por problemas relacionados com o uso de drogas aumentou 19% face a 2022, em Unidades de Desabituação, e 9% em Comunidades Terapêuticas.
Relativamente ao álcool, e apesar do aumento da abstinência, não houve melhorias na maioria dos indicadores. Verificaram-se agravamentos ao nível das idades de início dos consumos, das prevalências do consumo recente e atual, das de embriaguez severa e dos consumos de risco elevado e da dependência.