A expansão da doença antes conhecida como varíola dos macacos está a causar alarme a nível mundial. Que vírus é este, como se transmite e manifesta, que riscos encerra e qual o risco acrescido da nova variante.
Corpo do artigo
O que é mpox?
Mpox é o nome dado à doença anteriormente conhecida como varíola dos macacos. Trata-se de uma infeção viral causada pelo vírus da mpox que pertence à mesma família do vírus que causa a varíola. A designação varíola dos macacos decorre do facto de o vírus ter sido descoberto pela primeira vez em macacos de laboratório em 1958, embora também possa ser transmitida por outros animais e de pessoa para pessoa.
Quando apareceu?
Conhecida por muito tempo como varíola dos macacos, a doença surgiu entre os humanos por volta de 1970 na República Democrática do Congo (RDC). Durante décadas permaneceu limitada a 10 países africanos com uma taxa de mortalidade incerta, estimada entre 1% e 10%. Esta incerteza aumentou em 2022, quando a doença se espalhou pelo Mundo. Nos novos países, especialmente nos ocidentais, a mortalidade revelou-se muito baixa: cerca de 0,2%.
Como se transmite?
A forma de contágio mais habitual é através do contacto da pele. “O mpox não é covid (...). Com base no que sabemos, o mpox é transmitido principalmente através do contacto pela pele que apresenta lesões da doença, incluindo durante as relações sexuais", disse o diretor da OMS Europa, Hans Kluge, em declarações à imprensa internacional em Genebra. O porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, sublinhou, por seu lado, que não é recomendado o uso de máscaras uma vez que o contágio acontece por contacto da pele.
Quais são os sintomas?
Os sintomas incluem febre, erupção cutânea, dores de cabeça, dores de garganta, dores musculares, gânglios linfáticos inchados e dores nas costas.
Qual é o perigo?
Para avaliar a ameaça – apesar da incerteza –, é preciso ter em conta que não há um único surto de mpox, mas três, que estão a ocorrer em simultâneo e afetam diferentes grupos de pessoas e de formas distintas.
Cada surto está associado a um clado, que é o ramo da árvore genealógica a que o vírus mpox pertence.
Clado 1a é a causa da maioria das infeções no Oeste e Norte da República Democrática do Congo (RDC). Este surto, que já dura há mais de uma década, tem-se disseminado principalmente pelo consumo de carne de animais selvagens infetados. Os doentes transmitem o vírus pelo contacto próximo, e as crianças têm sido particularmente afetadas.
Clado 1b é o novo ramo da família mpox e está a provocar surtos no leste da República Democrática do Congo e em países vizinhos. Está a espalhar-se principalmente ao longo de rotas de camiões cujos com motoristas têm relações sexuais heterossexuais com prostitutas. O contágio tem sido rápido também através de contacto próximo entre pessoas e crianças.
Clado 2 é o surto de mpox ocorrido em 2022 e que estava fortemente associado ao sexo, tendo afetado então predominantemente comunidades de homens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens. Este surto ainda não acabou.
A nova variante é mais perigosa?
A nova variante pode ser facilmente transmitida por contacto próximo entre dois indivíduos, sem necessidade de interação sexual, e é considerada mais perigosa do que a variante de 2022.
A OMS reconhece que o modo de transmissão da nova variante não está totalmente claro, mas admite a possibilidade de alguém, na fase aguda da infeção, e principalmente se tiver bolhas na boca, possa transmitir o vírus através de gotículas expiradas.
Esta variante já provocou pelo menos 548 mortos desde o início do ano na República Democrática do Congo (RDC), o país mais atingido, e a OMS considera "provável que outros casos importados sejam registados na região europeia durante os próximos dias e semanas", declarou a secção europeia da organização em comunicado.
Qual é o nível de alerta?
A OMS declarou o surto de mpox em África como emergência global de saúde devido à rápida expansão e elevada mortalidade da nova variante em África e de um caso na Suécia, de um viajante que esteve numa zona do continente africano onde o vírus circula intensamente.
Um total de 38.465 casos desta doença foram registados em 16 países africanos desde janeiro de 2022, com 1456 mortes, incluindo um aumento de 160% no número de casos em 2024 em comparação com o ano anterior, de acordo com dados publicados pela agência de saúde da União Africana, Africa CDC.
E na Europa?
No dia 16 de agosto, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) estimou ser "altamente provável" que a União Europeia tenha mais casos importados de mpox, após a nova variante ter aparecido dias antes na Suécia importada de África. "Numa nova avaliação de risco, o ECDC afirmou que é altamente provável que a UE/EEE [União Europeia e Espaço Económico Europeu] venham a registar mais casos importados de varíola causada pelo vírus da clade I que circula atualmente em África", a variante tida como mais perigosa da doença.
Ainda assim, o centro europeu refere que "a probabilidade de transmissão sustentada na Europa é muito baixa, desde que os casos importados sejam diagnosticados rapidamente e que sejam aplicadas medidas de controlo".
No dia 19, reuniu o Comité de Segurança da Saúde da União Europeia (UE), composto por especialistas da Comissão Europeia e dos estados-membros, que coordena a resposta rápida da UE às ameaças sanitárias transfronteiriças graves. A Comissão Europeia garantiu "todo o apoio necessário" aos países da UE perante eventuais casos importados de monkeypox (mpox), após a nova variante, ter aparecido na Suécia importada de África, pedindo vigilância.
E Portugal?
Segundo a Direção-Geral da Saúde, nenhum dos casos de mpox reportados em Portugal é da variante mais perigosa da doença.
No total, entre junho do ano passado e julho deste ano foram reportados 244 casos de mpox em Portugal.
Quem é mais vulnerável?
O contexto da epidemia também influencia o contágio: alguns pacientes são muito mais vulneráveis. As mortes registadas na RDC – mais de 500 entre cerca de 15 mil casos – são principalmente de crianças afetadas por desnutrição.
As mortes na epidemia de 2022-2023 – cerca de 200 em quase 100 mil casos – ocorreram entre adultos com sistema imunológico comprometido pelo HIV.
Estes diferentes perfis são explicados não só pela geografia, mas também pelos modos de transmissão, que variam de acordo com as epidemias.