Reduzir as emissões passa por mudar comportamentos diários, avisou o ex-ministro do ambiente, João Pedro Matos Fernandes, que lamentou o aquecimento global acima de 1,5º graus Celsius no planeta.
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O Mundo está aperder a batalha pelo clima e a inversão desta trajetória só poderá acontecer, na vertente da mobilidade, com a mudança de comportamentos. A ideia foi defendida esta terça-feira por João Pedro Matos Fernandes, ex-ministro do Ambiente e da Ação Climática, que não acredita que as novas tecnologias vão descobrir a solução para o problema. É preciso racionalizar, reutilizar e reduzir as emissões dos transportes, senão “um dia vai ter que ir à bruta”, adverte.
João Pedro Matos Fernandes juntou-se ao sociólogo e ex-ministro Augusto Santos Silva, no Café Velasquez, para a sexta edição das “Conversas de Café”, uma iniciativa do JN e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, com apoio da Irmandade dos Clérigos.
Numa hora e meia em que viajou pela realidade das alterações climáticas da Europa, África, América e Ásia, Matos Fernandes deixou, em tom de brincadeira, alguns avisos sérios: “Não se preocupem com o planeta porque a Terra vai continuar a existir. A Terra não precisa de oxigénio para nada, mas eu sei quem precisa”.
O ex-ministro concluiu que os humanos tomam as decisões “a partir do conforto” e é sem abdicar deste que se “prodispõem a agir”. Como tal, acrescenta, estamos “perto da linha vermelha”, pois “o planeta já aqueceu um grau e meio e com isso chegou àquele valor do acordo de Paris para o final do século XX”.
O docente mostrou-se preocupado com “o crescendo de resistência da opinião pública face à ação climática” e com as consequências das políticas de Donald Trump que “além de achar que pode contrariar a ciência, acha que a ciência é ele mesmo”. Isso diminuirá as ajudas, com particular prejuízo para o continente africano, que é “o que emite menos gases, cerca de 7%, mas é sem dúvida o mais prejudicado com as alterações”.
Por cá, lembrou Matos Fernandes, Portugal foi o primeiro país a comprometer-se com a neutralidade carbónica até 2050. E explicou que essa neutralidade consiste em “dizer que o volume de emissões que temos é igual à capacidade de sumidouro de CO2”. Neste capítulo, recordou que o país se comprometeu a reduzir a emissão de 68 megatoneladas de C02 por ano, para 12 megatoneladas, aumentando a capacidade de “sumidouro” de nove megatoneladas para 12. “É muito mais difícil fazer aumentar a capacidade de sumidouro de nove para 12 do que fazer reduzir as emissões de 68 para 12”.
Em parte, esta redução tem de se fazer pela mudança de comportamentos na mobilidade. Em resposta a um dos cerca de 50 portuenses que assistiram à tertúlia, Matos Fernandes disse não saber o que falta para que os portugueses mudem os comportamentos: “É mesmo preciso engarrafar os outros todos para que os motoristas de autocarros possam encher”.