Muito afeto na visita do Papa a Fátima, onde voltou a pedir uma Igreja "aberta a todos"
Segundo dados do Vaticano, o número de peregrinos presentes no Santuário rondou os 200 mil, longe do meio milhão esperado. As clareiras no recinto foram, no entanto, preenchidas pela disponibilidade de Francisco para o afecto, beijando e abençoando muitas crianças.
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Foi uma visita curta, mas marcante, não pela enchente, com o número de peregrinos a ficar muito aquém do esperado, mas, sobretudo, pelos afetos e pela mensagem de inclusão que o Papa quis passar ao ter junto de si, a rezar na Capelinha das Aparições, jovens com deficiência e reclusos. Francisco regressou, este sábado, à Cova da Iria, onde voltou a sentir o "silêncio orante" de Fátima, que viveu em 2017, e repetiu a mensagem de uma uma Igreja "sem portas" e aberta a "todos, todos, todos", que já tinha transmitido em duas ocasiões nesta Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
"Para que não haja dúvidas. Que todos, católicos e a Igreja saibam ler e viver a mensagem", observou Gaspar Sonote, jovem timorense, a estudar na Universidade Aveiro, que passou a noite no recinto do Santuário para assegurar um lugar junto ao corredor onde passou o Papamóvel, numa viagem lenta, com muitos paragens breves, para que Francisco pudesse beijar e abençoar bebés e crianças. Esta disponibilidade fez-se também sentir na Capelinha das Aparições, onde, à saída, o Santo Padre fugiu ao programado e cumprimentou, um a um, os jovens que aí rezaram o terço com ele, e não apenas o grupo de 15 que estava pré-definido.
À chegada à Capelinha, onde foram feitas adaptações para permitir o acesso da cadeira-de-rodas que o transportava, o Papa permaneceu em silêncio durante alguns minutos diante da Imagem de Nossa Senhora, com os milhares de peregrinos a respeitarem o momento, que terminou com a oferta de um terço de ouro que Francisco deixou aos pés da imagem. O mesmo silêncio fez-se sentir aquando da oração do terço, um momento também de inclusão, com duas das jovens com deficiência presentes no espaço a participarem na recitação de dois mistérios. Emília Henzel fê-lo em polaco e Samantha Numerato em italiano. Rezou-se pela paz, na Ucrânia e noutras partes do mundo, mas também pelos jovens. A essas preces, o bispo Leiria-Fátima juntou, na mensagem que deixou aos peregrinos, as crianças vítimas da guerra, da fome e dos abusos sexuais.
“Juntamo-nos à oração de vossa santidade pela paz, com a qual este Santuário profundamente se identifica, tendo particularmente em atenção a guerra na Ucrânia e em tantos outros focos de conflito no mundo, que atingem dramaticamente a vida e o futuro, sobretudo das nossas crianças e jovens”, referiu D. José Ornelas, também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
No final da recitação, Francisco dirigiu-se aos cerca de 200 mil peregrinos presentes do recinto do Santuário, número avançado pelo Vaticano que ficou muito abaixo das 500 mil pessoas que as autoridades esperavam. Falando quase sempre de improviso, o Papa apontou a Capelinha como uma "bonita" imagem do que deve ser a Igreja, “acolhedora e sem portas”. “A Igreja não tem portas, para que todos possam entrar, e aqui podemos insistir para que todos possam entrar, porque esta é a casa da mãe e uma mãe tem sempre o coração aberto para todos os filhos. Todos, todos, todos, sem exclusão”, disse Francisco, repetindo uma das mensagem fortes que tinha deixado na missa do acolhimento da JMJ, celebrada na quarta-feira.
Acolhida e integrada foi, precisamente, assim que se sentiu Carla, que integra o grupo de 13 jovens com deficiência do programa "Vem para o meio", promovido pelo Santuário de Fátima e operacionalizado pela congregação Silenciosos Operários da Cruz, que estão a participar na JMJ e que, este sábado, estiveram com Francisco na Capelinha das Aparições. "Não acreditava que fosse possível ir à JMJ e, muito menos, rezar tão perto do Papa e cumprimentá-lo", confessava a jovem, que se movimenta em cadeira de rodas, no final da cerimónia deste sábado.
A emoção de Carla é partilhada por uma das voluntárias do grupo, Isabel Ribeiro. "É uma experiência inesquecível estar com estes jovens na JMJ. Estamos a dizer que todos somos capazes, nas nossas limitações. Todos somos especiais na nossa individualidade", salienta Isabel, educadora de infância e professora de educação especial, que, em 2000, esteve como peregrina na JMJ, em Roma. "Fiz-me voluntária agora, porque queria que eles pudesse participar e viver a dinâmica e a alegria deste encontro de fé e culturas", confessa.