O mercado de trabalho do Norte deu sinais de "uma recuperação sólida" nos últimos 13 anos. Uma evolução sustentada pelo crescimento do emprego, pelo aumento da participação das mulheres e por uma maior estabilidade contratual, embora os salários continuem abaixo da média nacional.
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As conclusões estão vertidas no relatório "Norte Estrutura", agora divulgado, e que analisou o mercado de trabalho nortenho entre 2011 e 2024. Durante este período, notou-se um "acentuado reforço das qualificações", que se traduziu num aumento do emprego entre trabalhadores com ensino superior. O relatório aponta para "um novo paradigma de desenvolvimento socioeconómico na Região", com a progressivo aumento do emprego em setores mais intensivos em conhecimento, como saúde, educação, tecnologias de informação e comunicação, atividades científicas e técnicas.
O presidente da CCDR-Norte, António Cunha, sublinha essa “terciarização, com uma manutenção do setor secundário” como aspetos importantes do documento. “Há uma diminuição de emprego na agricultura muito associada à mecanização. Não perdemos área agrícola e até ganhamos no peso da agricultura nas exportações, mas perdemos pessoas”, acrescentou, sublinhando que “a grande vantagem deste relatório é ser uma análise consolidada”, a vários anos, “não é uma análise conjuntural, é muito estruturada.”
Segundo o estudo, o Norte foi a região portuguesa que mais criou empregos entre 2011 e 2014, com 230 mil novos postos de trabalho, seguido da Grande Lisboa (+180 mil) e da Península de Setúbal (+70 mil). Em 2024 havia 1,77 milhões de pessoas empregadas, equivalente a um crescimento acumulado de 14,9% face a 2011. O boletim revela que número de pessoas empregadas com ensino superior no Norte aumentou 107,3%, passando de 275,5 mil para 571,1 mil, e os empregados com escolaridade até ao 3.º ciclo do ensino básico diminuíram 32,7%, de 971,5 mil para 653,4 mil.
António Cunha nota “uma mudança brutal, muito positiva no nível de formação” dos trabalhadores no Norte. “Há 10 anos, o número de pessoas com o ensino básico era muito significativa e com o ensino superior ainda era relativamente pequena. Agora temos um crescimento enorme, muito grande, das pessoas com formação com o ensino superior e secundário”, sublinhou o presidente da CCDR-N.
Evolução pouco visível nos vencimentos
Esta evolução é pouco visível nos vencimentos, O aumento foi mais expressivo entre os trabalhadores com escolaridade até ao 3.º ciclo do ensino básico, cujos salários líquidos subiram de 598 para 848 euros, diz o relatório. Em contraste, os diplomados com ensino superior registaram uma subida salarial mais modesta, de 1299 para 1451 euros, o que se traduziu numa perda real de 10,9% no poder de compra, segundo o documento.
"Em todo o país, ao longo da década, houve um aumento dos salários mais baixos, o salário mínimo subiu significativamente”, disse António Cunha, apontando um senão de uma das grandes conquistas da região Norte. “Temos uma certa massificação do ensino superior e, portanto, em termos médios, temos alguma redução. Mas isso parece normal, não devemos perder o objetivo que queremos e que estamos apostados do aumento geral dos níveis salariais para a região”, acrescentou.
“A compressão salarial entre níveis de escolaridade, com ganhos reais nos grupos com menor escolaridade e perdas reais entre os trabalhadores com ensino superior, acompanhou a tendência nacional”, nota o relatório. “Embora este padrão tenha contribuído para uma maior coesão no mercado de trabalho e para a partilha dos ganhos associados à transformação tecnológica, poderá comprometer a capacidade da Região em atrair e reter quadros qualificados - um fator crítico num contexto de pleno emprego e de transição para uma economia cada vez mais assente no conhecimento", lê-se nas conclusões do documento.
O relatório "Norte Estrutura" identifica o “crescimento das remunerações” como um desafio para a região. No geral, os salários médios líquidos dos trabalhadores por conta de outrem aumentaram 14,9% no período estudado, de 751 para 1081 euros, a uma média anual de 1,1%, em linha com o que sucedeu a nível nacional. "No entanto, esta evolução paralela não implicou convergência, mantendo o Norte entre as regiões NUTS II com salários mais baixos do País”, lê-se no documento.
António Cunha explica que os salários baixos estão relacionados “com os níveis de produtividade a Norte, de geração de valor, que normalmente estavam associados a níveis de formação mais baixos” na Região. Uma tendência que se inverteu. “Há dez anos éramos a região com piores indicadores educativos, hoje somos a região com melhores indicadores educativos, incluindo no abandono escolar,” sublinhou o presidente da CCDR-N. “Conseguimos vencer essa batalha da educação e, com certeza, isso vai revelar-se nos próximos anos”, argumentou.
Aumenta o trabalho feminino e continuam as diferenças
O estudo evidencia ainda um emprego com mais mulheres, com o Norte a criar 147,7 mil empregos femininos e 82,3 mil empregos masculinos, reforçando a proporção das mulheres no total da população empregada, passando de 46,2% para 48,6%. A maior participação feminina não contribuiu, no entanto, para o nivelamento dos vencimentos, com o salário líquido médio dos homens a trabalhar por conta de outrem a aumentar de 817 para 1172 euros no período em análise, enquanto entre as mulheres a subida foi de 683 para 995 euros. Uma diferença de 177 euros, abaixo da média da discrepância nacional de 206 euros, que sobe para 300 euros no Norte, entre trabalhadores e trabalhadoras com Ensino Superior, também abaixo das diferenças nacionais, que está nos 365 euros de média.
Os contratos de trabalho, segundo o relatório, estão mais estáveis, aumentando de 79,6% para 85,3% do total a proporção de trabalhadores por conta de outrem com contrato sem termo. Paralelamente, a taxa de desemprego no Norte diminuiu de 14,0% para 6,5%, aproximando-se do limiar do pleno emprego, e situando-se em linha com a média nacional, que está nos 6,3%, segundo dados do início do mês.
"Esta evolução, contudo, convive com desafios estruturais, nomeadamente o declínio do emprego entre os mais jovens e o envelhecimento da força de trabalho”, sublinha o documento. Em 2024, a taxa de desemprego entre os trabalhadores com ensino superior foi a mais baixa (4,9%), enquanto a dos jovens (16 aos 24 anos) foi a mais elevada (18,6%). Entre 2011 e 2024, o crescimento líquido do emprego no Norte ocorreu apenas no grupo etário dos 45 ou mais anos, enquanto o número de pessoas empregadas entre os 16 e os 44 anos recuou, acompanhando uma tendência também visível a nível nacional. “No entanto, não se observou uma fuga generalizada de talento que comprometesse a criação de emprego qualificado entre os mais jovens. Pelo contrário, entre os 16 e os 44 anos, verificou-se um aumento acentuado do emprego nos trabalhadores com o ensino superior, contrastando com a redução nos níveis de escolaridade mais baixos", revela o documento.
Persistências das disparidades
A persistência destas disparidades, mesmo em contexto de escassez de mão-de-obra e de crescimento económico, indica a presença de desemprego estrutural, associado ao desajuste entre as competências disponíveis e as exigências da economia atual", conclui o relatório. “Temos um aumento generalizado do emprego, mas que é menor nas camadas mais jovens, mas o Norte compara bem com o resto do país”, argumentou António Cunha. “Os desafios são enormes, mas esses resultados mostram que estamos a ter uma alteração estrutural da nossa economia, que permite ter esperança nesse aumento da geração de valor e um consequente aumento dos níveis salariais que se pagam no Norte”, acrescentou o presidente da CCDR-N.
"Apesar dos progressos registados em vários domínios do mercado do trabalho, para os quais terão contribuído, decisivamente, a aplicação dos diferentes Programas de financiamento da União Europeia com incidência geográfica na Região, em 2024, o Norte continuava abaixo da média nacional em diversos indicadores estruturais, como a taxa de emprego, a taxa de atividade, a proporção de trabalhadores com ensino superior, bem como nas remunerações médias de todos os níveis de escolaridade”, aponta o relatório. “Estes dados reforçam a necessidade de intensificar políticas públicas orientadas para a convergência, com especial foco na valorização dos salários, na qualificação da força de trabalho e na integração dos grupos mais vulneráveis no mercado”, acrescenta o documento, sublinhando que “a mobilização eficaz dos fundos europeus deverá continuar a apoiar a diversificação económica."